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Henriqueta Eilert

Ela era filha de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, casou com um sério rapaz alemão e viveu a vida dos arrabaldes de Porto Alegre.
Conheça a história de Henriqueta Eilert.

*±1877 Rio Grande do Sul      †±1950 Porto Alegre RS

• Vide a genealogia de Henriqueta Eilert
Síntese

Henriqueta Eilert era filha de imigrantes alemães radicados no Rio Grande do Sul, e foi uma esposa, mãe e dona de casa teuto-brasileira. Era casada com um alemão, teve quatro filhas, e viveu a maior parte da sua vida em Porto Alegre.

Até o momento, pouco se sabe precisamente sobre os dados vitais de Henriqueta Eilert, de forma que esta biografia apoia-se em várias memórias da família, suposições e evidências indiretas.

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Henriqueta Eilert, já ao final da vida, mas ainda com o fogo nos olhos castanhos.

 

Parte um: Henriqueta veio ao mundo

1.1. O mistério de Henriqueta – Dos Comos, Ondes e Quandos ainda sem resposta: Nascimento e infância

A primeira aparição de Henriqueta em registro documental ocorre em dezembro de 1900, na ocasião do seu casamento civil em Porto Alegre. Segundo o registro de casamento de Henriqueta com Theodoro Nilles,[1] ela teria nascido em ca. 1877,[1] no Rio Grande do Sul.[1] Era filha dos imigrantes alemães Pedro Eilert[1] e Clara Eilert.[1] Ambos os seus pais atendiam à fé Evangélica,[2] [3] e portanto, há alguma dificuldade em localizar informações exatas sobre o nascimento de Henriqueta no Rio Grande do Sul, não tendo sido encontrado até o momento qualquer registro civil ou religioso.

Sendo assim, não se sabe exatamente quando e onde no Rio Grande do Sul ela nasceu. Da localização de seus pais no estado, sabe-se que a mãe, Clara, havia emigrado da Alemanha na infância com pais e irmãos para Nova Petrópolis,[4] na Colônia de Santa Cruz do Sul, e que a família deixou o local em 1859.[4] Muitos anos mais tarde, em 12 de janeiro de 1895, o jornal “A Federação” lista os nomes do pai de Henriqueta “P.M.F. Eilert” e do avô materno “Carlos Stams” como passageiros da embarcação Lageado,[5] chegando de São Sebastião do Caí a Porto Alegre naquela ocasião.

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Peter Max Friedrich Eilert e Carl Stamm em lista de passageiros de São Sebastião do Caí para Porto Alegre, em 1895. “A Federação”, Hemeroteca Digital Brasileira.

Também sabe-se que um irmão da sua mãe, o tio Eduard Stamm, batizou uma filha (e portanto uma prima-irmã de Henriqueta) em Santa Cruz do Sul, em 1870.[6] Portanto, é possível que Henriqueta tenha nascido em alguma localidade da Colônia de Santa Cruz do Sul, região onde também era radicado Franz Joseph Nilles, tio de seu futuro marido, Theodoro.

1.2. Pais e avós

Henriqueta era filha do imigrante alemão Peter Max Friedrich Eilert – conhecido como Pedromax Frederico[7] Eilert ou simplesmente Pedro Eilert, pintor[8] (em alemão: “maler”),[9] e sua esposa Clara Stamm – que passou a chamar-se Clara Eilert após o casamento. Pedro e Clara vieram da Alemanha de diferentes cidades,[2] [3] bem distantes entre si, e em diferentes épocas,[9] [4] com quatorze anos de intervalo. Portanto, com toda probabilidade, os pais de Henriqueta conheceram-se e casaram-se no Rio Grande do Sul.

A Confederação Germânica no período quando nasceram os pais de Henriqueta. Ele, em Meldorf, partindo para o Rio Grande do Sul em 1872. Ela, em Solingen, partindo para o Rio Grande do Sul em 1858.

A Confederação Germânica no período em que nasceram os pais de Henriqueta. Ele, em Meldorf, partindo para o Rio Grande do Sul em 1872. Ela, em Solingen, partindo para o Rio Grande do Sul em 1858.

Os avós paternos de Henriqueta eram Hans Jurgen Georg Eilert, conhecido no Brasil como Jorge Eilert, também pintor, e Anna Christina Jacobs;[10] e os avós maternos eram Carl Wilhelm Stamm, afiador (em alemão: “schleifer”), e sua esposa Henriette Amalie Erntges (conhecida como Amalie ou Amalia E. Stamm).

 

1.3. A segunda de oito irmãos

Nos registros de óbito de seus pais, Henriqueta é elencada como a segunda de oito filhos do casal Pedro e Clara Eilert. Assim, seus irmãos eram:

  • Jorge Eilert, nascido ca.1875, casado, oleiro e contando 27 anos em 1902; foi declarante da morte do pai, Pedro Eilert;
  • Eleonora Eilert, nascimento estimado ca.1879, sem mais notícia;
  • Emília Eilert, nascimento estimado ca.1881; casada com Francisco Subkoviak, foi madrinha de batismo de Wilma Nilles, filha de Henriqueta;
  • Charlotte Amalie Clementine Eilert, nascimento estimado ca. 1883. Conhecida como tia Carlota, casou com Germano Neuman no 4º distrito de Porto Alegre, a partir de 4 de março de 1907 (data da habilitação para casar).[11] Foi madrinha de batismo de Erna Nilles, filha de Henriqueta.
  • Adolpho Eilert, nascimento estimado ca.1885. Foi testemunha do casamento civil de Erna Nilles, filha de Henriqueta.
  • Catharina Eilert, nascimento estimado ca.1887, sem mais notícia.
  • Wolkmar Eilert, nascimento estimado ca.1889, declarante da morte de Clara Eilert, em 1924.

 

A família de Henriqueta, exceto marido e filhas: Pais, avós, tios, primos, irmãos e cunhados. Muitos dos locais de nascimento são ainda ignorados, mas sabe-se que boa parte da família residia em Porto Alegre a partir de ca. 1880.

A família de Henriqueta, exceto marido e filhas: Pais, avós, tios, primos, irmãos e cunhados. Muitos dos locais de nascimento são ainda ignorados, mas sabe-se que boa parte da família residia em Porto Alegre a partir de ca. 1880.

 

Parte dois:
A vida adulta em Porto Alegre

2.1. O encontro com o noivo

Conforme escrito anteriormente em outro post, sobre como o destino de Henriqueta teria cruzado o do futuro marido, Theodoro:


“A Henriqueta é uma dessas pessoas de quem mais se sabe através de memórias do que de dados vitais. Mas sabe-se que ela tinha vínculos familiares com trabalhadores da área de encardernação e papelaria, e impressões de livros comerciais (tais como cadernos e livros de contabilidade, por exemplo). É possível que assim tenham se conhecido, como ocorria com freqüência, através de familiares que por sua vez se conheceram através do trabalho.

Ou ainda pode ser que tenham se conhecido em sociedade, estando ambos inseridos na comunidade germânica dos imigrantes alemães no Rio Grande do Sul. Somente em Porto Alegre, por exemplo, teriam sido várias as oportunidades de ampliar círculos sociais na comunidade dos alemães, como relata Núncia Santoro Constantino:[12]

“Aos poucos, bailes e festas nos clubes representaram novas formas de sociabilidade introduzidas pelos imigrantes alemães. Depois da Germânia, surgiu a Leopoldina homenageando a imperatriz austríaca dos brasileiros; em 1903 fundava-se o Clube Juvenil. Tornou-se comum, nas noites de sábado, foguetes anunciando bailes que iriam varar a noite, ou kerbs que passaram a fazer parte do calendário festivo porto-alegrense.”
[…]
“Permaneceram muitas dessas sociedades: Deutscher Turnerverein, sociedade de ginástica, os clubes de remo Ruder Club Porto Alegre, Ruder Verein Germania, Ruder Verein Freundschaft, ainda que na guerra mudassem os nomes. Além de clubes desportivos, havia outros de categorias profissionais. Exemplo é o Clube dos Caixeiros Viajantes,‟[…] com o seu pequeno reservado só para drinks e decorado com humor[…], como escreveu Alfred Funke, admirado que encontrara clubes alemães “ […] de combatentes e cantores, ginastas e atiradores, ciclistas e remadores, evangélicos e católicos, trabalhadores e comerciantes […]”

 

No entanto, com enorme probabilidade, o encontro de Henriqueta com Theodoro se deve a Jorge Eilert Filho. Nascido no Rio Grande do Sul[13] em 1872,[13] filho de Jorge Eilert,[13] casado com Christiana Boos,[13] e residente na Fernandes Vieira, [13] onde manteve uma oficina de encadernação próxima à residência dos pais de Theodoro.

2.2. Casamento

Em 1900, Henriqueta era moradora de Porto Alegre, juntamente com os pais. Aos vinte e três anos, casou-se com Theodoro Nilles às três horas e trinta minutos da tarde do domingo de 23 de dezembro de 1900, em casa no endereço Rua Arlindo, n.o 94. Foram testemunhas do enlace Jorge Eilert Filho, (com quem Henriqueta provavelmente tinha algum vínculo de parentesco), com vinte e oito anos, encadernador e residente na Rua São Rafael (a atual Avenida Alberto Bins), n.o 35; e Frederico Guilherme Lehr, com trinta e oito anos, marcineiro e residente na Rua Garibaldi, n.o 3.

Sendo que esta cerimônia civil teve procedimento em um domingo, e em “casa à Rua Arlindo”, possivelmente esta era a casa de um dos nubentes, no caso, provavelmente da noiva Henriqueta, sendo que os pais de Theodoro moraram na Rua Fernandes Vieira desde pelo menos 1894.[14] A Rua Arlindo não mais existe, e atualmente corresponde a ela, a grosso modo, a atual Avenida Érico Veríssimo em Porto Alegre.

A assinatura de Henriqueta
Não foi ainda encontrada memória anedótica ou documental sobre a escolaridade de Henriqueta – se, onde e até quando teria freqüentado escola. Mas certo é que assinava o próprio nome. Deixo aqui como evidência a palavra do meu saudoso pai,[15] que por conta de uma correção necessária na grafia do sobrenome Eilert (que foi primeiro interpretado como Eiberte), pôde ver pessoalmente o registro que continha a assinatura de Henriqueta:
“[…]peguei na 1ª zona a certidão corrigida do casamento de Theodoro e Henriqueta. Depois de alguma insistencia, me deram acesso ao livro…  Em uma sala reservada, mostraram-me o registro. O escrivão da época aportuguesou o Eilert para Eilerte. […]
De todo modo, pude ver as assinaturas. A da vó Henriqueta chama a atenção… está muito firme e clara, como se fosse em negrito…
Pude imaginá-la, jovem e emocionada, apertando um pouco mais a caneta bico de pena para obter aquele traço que se destaca. ”

 

Vale observar que, como Theodoro, apesar de falar o alemão como primeira língua, Henriqueta incorporou e escrevia o próprio nome em português. Como costuma ser o caso nos antigos registros evangélicos no Rio Grande do Sul, que precederam os registros civis (que só se tornaram obrigatórios dois anós após a instalação da República, em 1891) as cerimônias eram celebradas e documentadas em alemão (a exemplo da irmã Carlota, cujo anúncio de casamento divulga o consórcio da Srta. Charlotte Amalie Clementine Eilert). Deste modo, o nome de Henriqueta, no uso diário em casa e como deve ter sido documentado no ato de batismo, seria Henriette – nome que, aliás, deve ter tomado da avó paterna, Henriette Amalie Erntges.

 

2.3. A vida local:
O Riachinho, a casa, os parentes, as filhas

Diferente do marido, Theodoro, que trabalhava no centro de Porto Alegre, Henriqueta devia permanecer mais na vizinhança de casa, ou seja, no bairro Santana, antigamente chamado de arrabalde ou arraial São Miguel. Comparando o estilo de vida no arrabalde do passado com o presente, assim conta o pesquisador Sérgio da Costa Franco, morador de Porto Alegre desde 1935:[16]

As diferenças são profundas. O que logo se destaca é a qualidade de vida. As casas não tinham grades, havia um outro modo de vida. No bairro, os rapazes saíam de pijama a caminhar na rua. De pijama, que na época era o equivalente ao abrigo esportivo de hoje. A pessoa chegava em casa, botava o pijama e depois saía. Era uma característica do arrabalde. Dependendo da rua, colocavam-se cadeiras na calçada para conversar. O movimento de automóveis era reduzidíssimo. Em 1950, eram 6 mil carros na cidade.”

Para toda mulher que permanece em casa, há no estilo de vida muito mais do elemento da intimidade com o local: as conversas com os vizinhos, o observar dos traseuntes, a percepção com riqueza de detalhes de tudo que faz o lugar ao longo do tempo que passa. Nesse contexto  de imersão local, é impossível não pensar na característica relação de amor e ódio dos moradores das áreas ribeirinhas com o Arroio Dilúvio. O antigo Riachinho, que mudou de nome e também de traçado, devia também estar muito presente no dia a dia de Henriqueta – como já descrevi anteriormente aqui:

“Muito próxima estava a família também do arroio. O arroio onde se lavava roupa, onde se pescava, onde se coletava água potável para abastacer a casa… era também o mesmo arroio que inviabilizava a locomoção urbana usual, o mesmo arroio que empapuçava as ruas de chão batido, e que por vezes devia também alagar ligeiramente a casa.”

 

Outros elementos da vida nos arrabaldes que diferem dos dias de hoje são os componentes da infra-estrutura da cidade. Presumindo que Henriqueta realmente vivesse na casa onde se casou, na antiga Rua Arlindo – que era o limite do Menino Deus – e que depois tenha vivido com a família na Rua São Luiz, no bairro Santana, pode-se imaginar que ela acompanhou várias fases do desenvolvimento urbano de Porto Alegre. Teria experimentado Porto Alegre desde a configuração urbana incipiente das vizinhanças dos arrabaldes, até os anos de intensificação da ocupação urbana, da implementação e expansão das redes de distribuição elétrica e de água e esgotos, da ampliação dos transportes, e finalmente da canalização do Riachinho.

A época em que Henriqueta viveu nos bairros de Porto Alegre coincide com e excede o período de 1897 a 1924, período no qual, segundo Tânia Marques Strohaecker, houve uma série de melhoramentos decisivos na cidade. A realidade inicial dos arrabaldes era, porém, precária, como ela descreve em seu trabalho sobre os loteamentos dos bairros de Porto Alegre:[17]

“Na realidade, era apenas obrigatório que as novas áreas loteadas tivessem os imóveis voltados para logradouro público. As ruas e avenidas doadas para servidão pública pelas companhias loteadoras eram precárias. Não havia pavimentação nem previsão de escoamento das águas servidas, o máximo que se fazia era aterrar o leito da rua com um parco recobrimento de areião e cascalho que, com o passar do tempo, desaparecia por completo, cedendo lugar à lama e aos buracos. Obras de infra-estrutura para redes de água, energia e esgoto também não eram exigidas pelo poder público municipal às empresas.” [grifos adicionados].

 

A antiga Rua Arlindo. Foto sem data, autor desconhecido. Acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, disponibilizada por Jornal Tabaré (vide fontes).

A antiga Rua Arlindo. Foto sem data, autor desconhecido. Acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, disponibilizada por Jornal Tabaré (vide fontes). Esta foto já me parece ser do segundo ou terceiro quartel do século XX – mesmo assim, a rua ainda era de chão batido.

A casa podia ser de madeira, e a ruas do bairro de chão batido. Mesmo assim, o capricho de Henriqueta estava nos detalhes:

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Nas duas fotos de família acima, ambas tomadas na mesma ocasião, em cerca de 1913, pode-se ver um pouco da morada da família. A cadeira torneada em palhinha – uma fora e uma dentro de casa, cuja ponta do encosto se vê através da janela – não era, definitivamente, o exemplo mais simplório de mobiliário que se podia encontrar. As cortinas de renda,  as fotos e o que parece ser um par de castiçais na perede da sala dão testemunho da preocupação com a composição do ambiente interno. Do lado de fora, estão vários vasos e plantas que certamente foram intencionalmente cultivadas. Fotos do acervo da família.

O que se pode inferir da relação de Henriqueta com a casa é o caráter aspiracional da sua personalidade, refletido no lar e nos cuidados com a família. Como especulou Luís Claúdio Pereira Symanski[18] em seu livro – “Espaço privado e vida material em Porto Alegre no século XIX”, a domesticidade dos imigrantes alemães pode ter sido bem mais elaborada do que o habitual em Porto Alegre.

Na vizinhança de Henriqueta moraram também os pais e avós maternos, nas seguintes épocas e endereços:

• até 1909: o pai, Peter Eilert, pintor, morava na Azenha nº 104B.[8] A Azenha começava na esquina da Redenção, portanto, ao que me parece o número em questão estaria entre as atuais ruas Venâncio Aires e Olavo Bilac.

• até 1911: os avós maternos, Amalie (falecida em 1909)[19] e Carl Stamm, afiador (falecido em 1911),[20] viviam na Rua Veador Porto, nº 8, quase esquina com a Bento Gonçalves (na época, a Bento era a Estrada Matto Grosso – que outrora, era justamente um dos limites da cidade).

• até 1924: a mãe, Clara Stamm, morava na Rua Luiz Manoel, nº 1.[7]

 

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A parentela de Henriqueta gravitando ao redor da vizinhança: no passado, pais e avós. No futuro, as filhas. Feito por Helga.

Após o falecimento dos avós e pai, e concomitantemente ao falecimento da mãe, foram as filhas de Henriqueta formando suas próprias famílias, e, como ocorre, acabaram não batendo asas por muito tempo até tão longe do ninho. Essas filhas foram:

1. Irma Nilles, nascida em 15 de janeiro de 1902,[21] em Porto Alegre,[21] e batizada em sete de setembro do mesmo ano,[21] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[21] Foram padrinhos a irmã de Theodoro, Hedwig Olga “Edwiges” Nilles, e seu noivo José Kohmann. [21] Casou com o ítalo-brasileiro Arlindo Giácomo,[22] com quem teve filhos. A família morava na Av. Princesa Isabel, onde o marido, Arlindo Giácomo, era proprietário de um negócio familiar, que era uma oficina mecânica;

Henriqueta, a filha Irma e duas netas - possivelmente, Ila e Ilka.

Henriqueta, a filha Irma e duas netas – possivelmente, Ila e Ilka. Acervo da Helga.

2. Wilma Nilles, nascida em 10 de maio de 1904,[23] em Porto Alegre, e batizada em 9 de julho de 1905[23] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[23] Foram padrinhos a irmã Emília Eilert e esposo, Francisco Subkoviak.[23] [22] Casou-se com João Justo Vargas Lopes,[24] que era muito estimado na família,[25] em 27 de julho de 1923[24] na Igreja Nossa Senhora da Piedade, Porto Alegre.[24].

A família Nilles Vargas Lopes: Wilma, João Justo e os filhos Rubem e Edy, e a filha Ivone

A família Nilles Vargas Lopes: o casal Wilma e João Justo, os filhos Rubem e Edy, e a filha Ivone. Acervo da Helga.

A família morava na Rua Felicíssimo de Azevedo, em outra zona da cidade, mas após o falecimento de Henriqueta, passaram a morar na antiga casa da Rua São Luiz, 333.

3. Erna Nilles, nascida em 30 de março de 1911[26] em Porto Alegre,[26] batizada em 1.o de maio[26] do mesmo ano, na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[26] Foram padrinhos a irmã, Carlota Eilert,[22] e esposo, Germano Neumann.[26] Casou-se com Lothar Nascimento em 21 de janeiro de 1933. Por alguns anos, moraram em Erechim, mas voltaram a viver em Porto Alegre, na Rua Gomes Jardim.

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Acima, frente e verso de uma foto bem apagada de Erna Nilles na infância, que parece ter sido usada como cartão de visitas. Acervo da Helga.

4. Irene Nilles, filha caçula,[22] nascida em Porto Alegre e falecida em 19 de janeiro de 1946.[27] Irene não casou, e faleceu no mesmo endereço da família – Rua São Luiz, 333, indicando que não chegou a sair de casa.

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A terceira da esquerda para a direita é Irene Nilles, ao lado da irmã, Erna Nilles, à direita. Acervo da Helga.

***

E assim, estava inserida a figura de  Henriqueta na parentela, na casa, no bairro e na geografia da cidade.

Seríssima, mesmo em seu melhor vestido: Henriqueta, com o marido Theodoro e as três primeiras filhas. À esquerda, está Wilma, e à direita, ao lado do pai, está Irma. No colo, a pequena Erna. Ca. 1913. Foto do acervo da família, colorizada por Helga.

 

2.4. As Perdas

Entre 1909 e 1911, seguiu-se um período de pelo menos três perdas pessoais para Henriqueta: o falecimento da avó materna, Amalie Erntges Stamm, por hemorragia pulmonar, em 4 de fevereiro de 1909, na Rua Veador Porto, n.o 8, em Porto Alegre; o falecimento do pai, Pedro, em 13 de maio de 1909, por câncer de laringe, no endereço Avenida Azenha, 104B, em Porto Alegre; e o falecimento do avô materno, Carl Stamm, em 23 de julho de 1911, por arterioesclerose, na Estrada Matto Grosso (atual Av. Bento Gonçalves).

Após um período de 7 anos, em 18 de julho de 1924, falece a mãe de Henriqueta, Clara, por acidente vascular cerebral, na Rua Luiz Manoel, n.o 1, em Porto Alegre. Tanto os pais como avós maternos de Henriqueta repousaram no Cemitério Evangélico de Porto Alegre.[28]

Seguiu-se um período de dezessete anos de crescimento da família sem maiores vicissitudes, em que Henriqueta ganhou vários netos. A última filha a casar-se, Erna, casou em 1933 e em 1940 havia ganho o segundo filho. Mas em 27 de outubro de 1941, Henriqueta torrnou-se viúva do marido Theodoro,[29] vítima de complicações decorrentes de um câncer cervical.

Cinco anos depois, veio a que deve ter sido a mais amarga de todas as perdas: aos 68 anos, Henriqueta perdeu também a filha caçula, Irene, que finalmente sucumbiu à tuberculose, em 1946, na casa da Rua São Luiz.[27]

 

2.5. Os últimos anos

Henriqueta viveu para ver o marido e a filha caçula perecerem, mas ao menos, ao final da vida, não lhe faltou acolhimento da prole. Henriqueta passou seus últimos anos com a filha Wilma, o genro João Justo Vargas Lopes e os filhos do casal. O endereço era na Rua Felicíssimo de Azevedo, nº 263, onde funcionava Baratilho Santo Antonio, que era local de trabalho e morada da família Vargas Lopes. A casa do baratilho já não mais existe, mas aí estão fotos com João Justo, Wilma, filhos e a tia Carlota, que é a simpática senhora da foto à direita.

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Acima: fotos do Baratilho Santo Antonio, morada da família Nilles Vargas Lopes. Acervo da Helga. Nesta casa, faleceu Henriqueta.

Segundo as memórias de família, Henriqueta faleceu no inverno, [22] em Porto Alegre, por volta de 1950, de edema pulmonar. [22] Até hoje, nenhum registro de óbito foi encontrado. As netas relembram que Henriqueta foi sepultada no cemitério da Santa Casa, junto ao marido Theodoro e à filha Irene.[22]

 

2.6. Netos e lembranças: “eins, zwei, drei…”

Henriqueta pôde conhecer todos os netos, alguns dos quais ainda carregam vivas algumas lembranças dela.

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"A vó Henriqueta! Ela puxava o cabelo, fazia aquele coque...!"[22]

 

PB sem verso0078 Na fila de trás, estão Henriqueta, o neto Rubem, e as filhas Wilma, Erna e Irma; na frente, estão os netos Ila(?), Lothar, Ilka(?), Renato e, agarrado no vestido da mãe, está o pequeno pai da Helga, nascido em julho de 1948 – e assim, parece que esta foto foi tirada no último verão de Henriqueta, por volta de 1950.

Costumava cozinhar um tradicional prato alemão, chamado por ela de “Saumagen”, [22] cuja descrição da receita, porém, mais se assemelha à do um prato alemão chamado Leberknödelsuppe. Este prato, que é típico da região da Renânia-Palatinato, foi provavelmente ensinado a Henriqueta pela mãe, Clara (cuja família veio da Renânia), e foi parte do repertório culinário também das filhas de Henriqueta.[22]

Assim como Theodoro, falava o alemão em casa, ensinando aos netos a contar “eins, zwei, drei”.[22] Brincava, apontando com o dedo indicador em movimentos circulares pela palma das mãos das suas netas, enquanto entonava rimas, [22] contando breves contos infantis em alemão – em frases que não foram nunca, porém, compreendidas.

Há também as memórias mais furtivas de Henriqueta, estas dos seus netos mais jovens, infelizmente não as melhores. Há quem diga que, ao fim da vida, Henriqueta já não estava em sua melhor lucidez.[30] Mas certo é que até o fim, colheu o amor que semeou nas filhas – como se vê na dedicatória abaixo, escrita pela mão da filha Erna:

Diversas PB -0009 Diversas PB -0009-versoLembrança: acima, frente e verso do retrato do último neto, dedicado à vovó Henriqueta, pouco antes que ela falecesse.

 

Cronologia

Data, idade na ocasião e breve descrição dos acontecimentos pessoais e históricos ao longo da vida de Henriqueta

 ± 1877 0 Nasce Henriqueta, filha de Peter Max Friedrich Eilert e Clara Stamm, no Rio Grande do Sul
± 1879 ±2 Nasce a irmã Eleonora Eilert, no Rio Grande do Sul
± 1881 ±4 Nasce a irmã Emília, a Mimi, no Rio Grande do Sul
 ±1883 ±6 Nasce a irmã Carlota, no Rio Grande do Sul
±1885 ±8 Nasce o irmão Adolpho, no Rio Grande do Sul
 ±1887 ±10 Nasce a irmã Catharina, no Rio Grande do Sul
±1889 ±12 Nasce o irmão Wolkmar, no Rio Grande do Sul
1895 18 Presumida mudança da família para Porto Alegre
23 de dezembro, 1900 23 Casa-se com Theodoro Nilles, em Porto Alegre
15 de janeiro, 1902 25 Nasce a filha Irma, em Porto Alegre
14 de fevereiro, 1903 26 A cunhada, Edwiges, casa-se com José Kohmann, em Porto Alegre
10 de maio, 1904 27 Nasce a filha Wilma, em Porto Alegre
1905 28 Registrada a 1.a enchente do século, em Porto Alegre
13de maio, 1909 32 Falece o pai, Peter Eilert, em Porto Alegre
4 de fevereiro, 1909 32 Falece a avó materna, Amalie Erntges, em Porto Alegre
30 de março, 1911 34 Nasce a filha Erna, em Porto Alegre
23 de junho, 1911 34 Falece o avô paterno, Carl Stamm, em Porto Alegre
1912 35 Registrada a 2.a enchente do século, em Porto Alegre
±1913 ±36 Nasce a filha caçula, Irene, em Porto Alegre
1914 37 Registrada a 3.a enchente do século, em Porto Alegre
±1920 43 Casa-se a filha Irma com  Arlindo Giácomo
27 de julho, 1923 46 Casa-se a filha Wilma com João Justo Vargas Lopes, em Porto Alegre.
4 de julho, 1926 49 Nasce o neto Edy, em Porto Alegre
21 de janeiro, 1933 56 Casa-se a filha Erna com Lothar Nascimento, em Porto Alegre.
1936 59 O nível do Guaíba sobre 3,22m além da cota, em Porto Alegre
maio de 1941 64 Pior enchente já registrada em Porto Alegre
27 de outubro, 1941 64 O marido, Theodoro, falece em Porto Alegre
19 de janeiro, 1946 68 A filha, Irene, falece em Porto Alegre
11 de julho, 1948 71 Nasce o último neto, em Erechim.
inverno, ±1950 ±73 Falece em Porto Alegre, com edema pulmonar.

 

Agradecimentos

Primeiro, obrigada ao meu pai, por ter sido meu companheiro de pesquisas, documentação e preservação. Às filhas de Wilma Nilles, obrigada pelas memórias, passeios, histórias e fotografias. Ao Elvio, que é filho de uma dessas filhas, obrigada por digitalizar as fotos com tanto zelo e qualidade.

Mas principalmente para a Henriqueta deixo aqui meu agradecimento sem dimensões, por, em consequência da vida que viveu, ter sido a minha segunda bisavó. Obrigada pelas memórias que deixou, pela inspiração culinária, e pelo olhar fulminante que se deixou fotografar.

Profundamente, literalmente:

– Obrigada pela existência.

Da bisneta Helga, em maio de 2015.

–×××–

Veja também:


Fontes
[1.1] [1.2] [1.3] [1.4] [1.5] Registro de casamento de Theodoro Nilles e Henriqueta Eilert. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. 1.o Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais de Porto Alegre. Certidão de Casamento de Theodoro Nilles e Henriqueta Eilert, Matrícula N.o 096602 01 55 1900 2 00012 018 0000032 77. 

Casamento de Theodoro e Henriqueta

[2.1] [2.2] Índice de batismo de Pedro Eilert. Sächsisches Staatsarchiv, Staatsarchiv Leipzig. Evangelische Kirche Meldorf (Kr. Süderdithmarschen), Mikrofilme. Tauf von Peter Max Friedrich Eilert. Tauf-Index 1853-1874, Mikrofilm C-124, seite 9.
[3.1] [3.2] Índice de batismo de Clara Eilert (nascida Stamm). “Deutschland, Geburten und Taufen 1558-1898,” index, FamilySearch Tauf von Clara Stamm accessed 28 December 2014), Clara Stamm, 23 Jan 1850; citing ; FHL microfilm 490,275.
[4.1] [4.2] [4.3] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Memorial (Arquivo Histórico) do Rio Grande do Sul. Registro da chegada de Carl Stamm e família a Nova Petrópolis. Colônia de Santa Cruz do Sul. Códice 234, fl.64 (cabeçalho) e fl.66. (no.s 83-87)carl stamm - colonia santa cruz
[5] Hemeroteca Digital Brasileira. ‘P.M.F Eilert” e “Carlos Stams” em Manifesto de Passageiros Periódico “A Federação”. Ano XII, N.o 11. Porto Alegre, 12 de janeiro de 1895. Pág. 2, 3.a Coluna, Seção “Movimento de Passageiros”.
[6] “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952,” images, FamilySearch Batismo de Maria Emilia Stamm accessed 24 Feb 2014, Santa Cruz do Sul > São João Batista > Batismos 1868, Maio-1877, Ago > image 25 of 103.
[7.1] [7.2] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais da 4.a Zona de Porto Alegre. Registro de Óbito de Clara Eilert. Matrícula N.o 099804 01 55 1924 4 05117 194 0002047 26.

obito de Clara Stamm

[8.1] [8.2] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Cilvil de Pessoas Naturais da 4.a Zona de Porto Alegre. Registro de Óbito de Peter Max Friedrich Eilert. Matrícula 099804 01 55 1909 4 00054 027 0000959 05.

obito PMF Eilert

[9.1] [9.2] Staatsarchiv Hamburg; Hamburg, Deutschland. Hamburger Passagierliste für Peter Eilert. Hamburger Passagierlisten; Volume: 373-7 I, VIII A 1 Band 027 A; Seite: 867; Microfilm No.: K_1717.
[10] Informações de Hans-Peter Voss, responsável pelos arquivos paroquiais da Igreja Luterana de Meldorf, Alemanha (Ev.-Luth. Kirchenkreis Dithmarschen – Kirchenkreisbuchamt / Archiv, “Taufregister Meldorf 1854 Nr.67”).
[11] Hemeroteca Digital Brasileira. Jornal “A Federação”, Ano XXIV, Nº60, 11 de março de 1907. Juízo de Casamentos, Edital nº 30.
[12] CONSTANTINO, Núncia Santoro de. Nas horas vagas: Porto Alegre dos imigrantes (1880-1914) (PDF). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH: São Paulo, 2011
[13.1] [13.2] [13.3] [13.4] [13.5] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais da 4ª Zona. Certidão de Óbito de Jorge Eilert Filho. Matrícula 099804 01 55 1918 4 00093 003 003812 89.
[14] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Processo Judicial / Ação Ordinária. Processo Nº 2606, 1896.
[15] Correspôndencia pessoal para Helga, de pai para filha, em 1º de agosto de 2012.
[16] MELO, Itamar. Sérgio da Costa Franco: “Porto Alegre destruiu o que tinha do seu início”. Entrevista com Sérgio da Costa Franco. Zero Hora/Clic RBS, acesso em 8 de abril de 2014.
[17] MARQUES, T. Atuação do público e do privado na estruturação do mercado de terras de Porto Alegre (1890-1950). Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2005, vol. IX, núm. 194 (13). [ISSN: 1138-9788]
[18] SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Espaço privado e vida material em Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
[19] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais da 4.a Zona. Registro de Óbito de Amalie Erntges Stamm. Matrícula N.o 099804 01 55 1909 4 00053 059 0000289 50.
Obito de Amalie Stamm
(Nota: o sobrenome dos pais e o prenome do marido de Amalie apresentam equívocos. A data de falecimento de Amalie é a mesma do seu registro de sepultamento no Cemitério Evangélico de Porto Alegre, e a filha, Clara Eilert é citada com o nome de casada. A declarante é a mesma do falecimento do marido Carl Stamm, que também contém erros).
[20] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais da 4.a Zona. Registro de Óbito de Carl Stamm. Matrícula N.o 099804 01 55 1911 4 00061 040 0001430 19.
Obito de Carl Stamm
(Nota: O sobrenome foi grafado incorretamente porém a data de falecimento é a mesma encontrada para Carl Stamm no cemitério Evangélico de Porto Alegre, junto com a esposa Amalie E. Stamm, a filha Clara Eilert e o genro Peter Max Friedrich Eilert. A declarante é a mesma do falecimento de Amalie Erntges Stamm. Clara é citada como filha).
[21.1] [21.2] [21.3] [21.4] [21.5] Registro de batismo de Irma Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1902, Maio-1904, Nov: image 14 of 104.
[22.1] [22.2] [22.3] [22.4] [22.5] [22.6] [22.7] [22.8] [22.9] [22.10] [22.11] [22.12] Memórias das filhas de Wilma Nilles. Informações coletadas por Helga em várias conversas entre janeiro de 2013 março de 2014.
[23.1] [23.2] [23.3] [23.4] Registro de batismo de Wilma Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1904, Nov-1907, Jun: image 29 of 105.
[24.1] [24.2] [24.3] Registro de casamento de Wilma Nilles, accessed 13 February 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952: Porto Alegre: Nossa Senhora da Piedade: Matrimônios 1916, Abr-1927, Abr: image 56 of 104.
[25] Memórias do pai da Helga, coletadas em várias ocasiões.
[26.1] [26.2] [26.3] [26.4] [26.5] Registro de batismo de Erna Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1911, Jan-1912, Dez: image 30 of 153.
[27.1] [27.2] Registro de óbito de Irene. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro de Pessoas Naturais da 2.a Zona. Registro de óbito de Irene Nilles. Matrícula 100024 01 55 1946 4 0031 017 0029134 78.
certidãoobito irene
[28] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cemitério Evangélico de Porto Alegre. Lista de Sepultados obtida mediante consulta à Administração, em agosto de 2012.
[29] Registro de óbito de Theodoro Nilles. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cartório de Registro Civil da 2.a Zona de Porto Alegre. Registro de Óbito de Theodoro Nilles, Matrícula N.o 1000 24 01 55 1941 4 00021 173 0020814 18.
obito Theodoro Nilles
[30] Memórias do penúltimo neto de Henriqueta, coletadas por Helga em janeiro de 2013.

Johann Theodor Nilles

Ele imigrou do pólo industrial da Alemanha para a Belle Époque de Porto Alegre na adolescência, foi trabalhador de uma profissão de época e era conhecido em família pelo seu jeito severo de ser.
Conheça a história de Johann Theodor Nilles.

*03.08.1881 Essen DE          †27.10.1941 Porto Alegre RS

• Vide a genealogia de Theodoro Nilles
Síntese

Johann Theodor Nilles, mais conhecido como Theodoro Nilles, foi um imigrante alemão radicado em Porto Alegre do fim do século XIX até meados do século XX. Viveu a maior parte da vida na cidade, onde foi litógrafo, casou com uma teuto-brasileira, e foi pai de quatro filhas.

Johann Theodor Nilles

Johann Theodor Nilles, ca. 1912. Acervo de família.

“Helga: Ele era brabo?

Uma neta do Theodoro:

É. Ele era muito brabo.
A gente brincava com ele,
fazia graça quando ele falava alemão,
e ele vinha correndo atrás de nós com o relho.
Me lembro como se fosse hoje!
A gente corria para cima das escadas e ele atirava
o relho atrás de nós!”

Parte um:
A infância na Alemanha

1.1. O Nascimento em Borbeck-Essen

Johann Theodor Nilles, o Theodoro, nasceu em 3 de agosto de 1881,[1] em casa no endereço Borbeckerstraße 55, em Borbeck-Mitte,[1] o quarto distrito suburbano da cidade de Essen, na região da Renânia do Norte-Vestfália, Alemanha. Essen era o pólo industrial da Alemanha na época, e ainda é uma das maiores e mais industriais cidades do país. O endereço era listado como propriedade da famigerada gigante alemã, a Firma Krupp, que teve enorme impacto econômico em toda a Alemanha e em especial em Essen, onde construiu bairros inteiros a fim de acomodar o seu enorme contingente de trabalhadores. Theodoro contava vir de uma cidade grande,[2] um grande centro econômico, e a modo de traduzir a informação para a cultura local no Brasil, comparava-a com São Paulo.[2]

Os pais de Theodoro eram o operário (“fabrikarbeiter”)[1] Johann Joseph Nilles[1] (conhecido no Brasil como João Nilles, ou Nilles João) e sua esposa Emilia Nilles,[1] (antes de casar, Maria Emilie Weißkopf).[3] Era neto de Franz Nilles,[3] falecido antes de 1875,[3] e Susanne Margaretha Arnß[3] pela parte paterna, e de Robert Weißkopf[3] e Eleonore Herrmann,[3] também já falecida antes de 1875,[3] pela parte materna.

A fumacenta Essen, com as chaminés da Firma Krupp, em 1890. Vista da torre da prefeitura para o Oeste. Wikimedia Commons.

A fumacenta Essen, com as chaminés da Firma Krupp, em 1890. Vista da torre da prefeitura para o Oeste. Wikimedia Commons.

 

Cartão postal de Borbeck-Essen. Da esquerda para a direita: Estação de trem; Borbeckerstraße - onde Theodoro nasceu; Germaniaplatz; Castelo de Borbeck; Portão do castelo; Outro ângulo do Castelo; Phillipus-Stift; Arena de Boxe; Hospital Evangélico.

Cartão postal de Borbeck-Essen. Da esquerda para a direita: Estação de trem; Borbeckerstraße – onde Theodoro nasceu; Germaniaplatz; Castelo de Borbeck; Portão do castelo; Outro ângulo do Castelo; Phillipus-Stift; Arena de Boxe (ca. 1950); Hospital Evangélico.

As acomodações para funcionários da Krupp eram simples, e com freqüência, com alta concentração de moradores. Borbeck foi bombardeada durante a Segunda Guerra, portanto, poucos trechos originais ainda estão de pé. Infelizmente, a Borbeckerstraße não é um deles. Em alguns outros pequenos trechos, ainda é possível vislumbrar um pouco do século retrasado, como por exemplo na Germaniastraße ou Marktstraße. Mas, na falta de boas fotos atuais, fica no lugar um cartão postal da época:

 

Borbeck Marktstraße, ca. 1910. Cartão postal da época.

Borbeck Marktstraße, a rua do mercado, ca. 1910. Cartão postal da época.

 

– As peças do engenho –

No panorama de uma Essen faminta por força de trabalho, os pais de Theodoro, como muitos que confluíram para o centro da industrialização da Prússia, vinham de diferentes pontos do Império Alemão. O pai vinha de Reil, uma pequena cidade pastoril ao sul de Essen e à margem do Rio Mosela. A mãe, que não morava em Essen sozinha, mas sim com o seu pai operário, era nascida em Elbląg (antigamente chamada Elbing), encravada no Mar Báltico da atual Polônia.

O acontecimento histórico que motivou a mudança de tantos alemães para Essen e arredores foi a unificação da Alemanha em 1871, como detalha Julio Battisti:[4]

“O processo de industrialização alemão foi rápido. Em fins do século XIX, a Alemanha já havia ultrapassado o Reino Unido e a França, e junto com os Estados Unidos, liderou os avanços para a Segunda Revolução Industrial. Esse crescimento foi muito rápido, mas por quê? Porque com a unificação político-territorial em 1871, a Alemanha se tornou não só um único Estado, como também um único mercado. Ou seja, houve também uma unificação econômica. As possibilidades de se acumular capitais aumentou com a instituição de uma moeda única, com a constituição de um grande mercado interno e a padronização das leis.

Devido à facilidade de transportes, e a disponibilidade de jazidas de carvão mineral, se concentrou indústrias quase na fronteira com os Países Baixos, aonde os rios Ruhr e Reno se encontram. Nessa região, que antes era rota de comércio ligando o norte da Itália a Flandres, os banqueiros concentraram capitais, e passaram a investir cada vez mais na indústria.

Aos poucos a população que residia no campo, foi migrando para as cidades e, formando a mão-de-obra necessária.”

A decorrência óbvia deste marco na história foi o significativo êxodo rural e a formação de grandes núcleos onde se concentravam indústrias e a massa de trabalhadores. Nesse contexto, em Essen encontraram-se os pais de Theodoro, vindos de dois extremos opostos da Prússia.

imperioalemao

Território do Império Alemão na época de Theodoro. A mãe veio de Elbing (atualmente chamada Elbląg (Polônia) no canto superior direito, e o pai, de Reil, na parte inferior esquerda.

 

1.2. A família

Em continuidade ao tópico anterior, quatro anos após a unificação da Alemanha, em 1875, casaram-se os pais de Theodoro, em Essen. Ali eles tiveram quatro ou cinco filhos, entre 1876 e 1886. Eles foram:

  • Augusta Nilles,[5] nascida ca.1876, casada com “João” (Johann) Wierig, residente em Essen e viúva em 1913.
  • Franz Wilhelm (Francisco Guilherme) Nilles, nascido em Essen em 28 de dezembro de 1877[6] casado com Maria Siegle.
  • Johann Theodor Nilles, nascido em 3 de agosto de 1881, em Borbeck, Essen.
  • Maria-Sibÿlla Nilles (hipótese), nascida em Essen, em 31 de julho de 1883.[7] Sem mais notícia. Teria falecido antes de 1913.[5]
  • Hedwig Olga (Edwiges) Nilles, nascida em Essen, em 31 de dezembro de 1886,[8] casada com José Kohmann em 1903, e tendo a união dissolvida em 1905. Em 1913, morava em Buenos Aires.[5]

 

arvore-theodoro

A família de Theodoro (exceto esposa e filhas) dividida entre Brasil e Alemanha: pais, avós, tios, primos em Feliz, irmãos e cunhados em Essen, Porto Alegre e Buenos Aires

Como descrito anteriormente, apenas dois dos quatro avós de Theodoro poderiam estar vivos quando ele nasceu, em 1881, pois tanto o avô paterno quanto a avó materna já haviam falecido antes de 1875.[3] E de qualquer forma, independente do tempo de vida dos avós e tios, a distância física seria uma grande barreira, mesmo que os vínculos familiares não tenham sido rompidos indefinidamente.
A família de Theodoro acabou ficando um pouco entre lá e cá, ao contrário da maioria dos imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, que partiram para não mais voltar à sua terra natal.

Os avós e tios de Theodoro teriam permanecido em Essen, exceto um: o tio Franz Nilles, que como explicado em maior detalhe a seguir, também imigrou para o Rio Grande do Sul.

 

 1.3. Religião

Todos os registros religiosos da família de Theodoro se encontram nos atos da fé católica, e ambos os pais se declararam católicos[3] quando se casaram no cartório de Essen, em 1875.

O templo católico de Borbeck, onde Theodoro provavelmente foi batizado, é a Igreja de São Dionísio, (em alemão, Pfarrkirche Sankt Dionysius) construída em 1863.[9]

 

1.4. Escolaridade

Theodoro, que certamente foi alfabetizado, deve ter sido educado pelo menos parcialmente na Alemanha, presumindo-se que a migração da família para o Brasil haja ocorrido a partir de 1892, quando ele já tinha, no mínimo, onze anos – como será explicado a seguir.

Em 1900, o percentual de soldados alemães recrutados que não sabiam ler era de 0.7%,[10] ou seja, a cada mil homens na Alemanha, apenas sete eram analfabetos, onde “alfabetização” era definida por saber escrever o nome e ler suficientemente bem.[10] A escolaridade da população alemã já era praticamente uniforme. Portanto, as chances de que Theodoro, que teria 19 anos em 1900, não houvesse freqüentado escola ao ser alfabetizado são absolutamente exíguas.

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo fossem flores. As escolas disponíveis para um menino em Borbeck em 1888, quando Theodoro contava 7 anos, eram duas:

– A mais antiga era Schule am Reuenberg, fundada em 1865 e localizada em Reuenberg, 163, e portanto a vinte e cinco minutos de caminhada do endereço de Theodoro (Borbeckertraße, 55). Além da problemática do estilo educacional alemão no século XIX, notoriamente  baseado na seriedade excessiva, haviam também os problemas estruturais de recursos humanos pelos quais passava a instituição. Em 1884, por exemplo, esta escola contava com cinco professores, e 444 alunos.[11] Ou seja, atendia cerca de 89 alunos por professor. Já em 1891, a situação estava bem melhor: eram “apenas” 72 alunos por educador.[11] A escola antiga foi bombardeada e reconstruída após a Segunda Guerra.

– Mas a escola mais próxima, e também a mais recente, era a Dürerschule, fundada em 1887[12] e situada em Wallstraße 2, mista, superior arquitetonicamente, com pátio aprazível, e a nove minutos de caminhada da casa de Theodoro. Esta talvez fosse a opção de escola de Theodoro no seu dia de sorte. Não se sabe, porém, quais seriam as reais condições da escola nesse período tão próximo ao seu ano de fundação.

Dürerschule em Borbeck, Essen. A escola era conhecida como a escola católica, vinculada à igreja de Sankt Dionysius. Wikimedia Commons.

 

Uma curiosidade de Theodoro é que, apesar de falar o alemão como primeira língua na infância e durante toda a vida, ao contrário da mãe e irmãos, costumava assinar seu nome em português, com o O no fim.

Assinatura de Theodoro Nilles. Porto Alegre, 1913.

Assinatura de Theodoro Nilles. Porto Alegre, 1913.

 

1.5. A imigração

Theodoro imigrou para o Rio Grande do Sul acompanhando seus pais e os irmãos Franz e Edwiges. Ao que tudo indica até o momento, a irmã primogênita de Theodoro, Augusta, nascida por volta de 1876, teria permanecido em Essen, sendo casada com João Wierig. Logo, considerando que Augusta estivesse em idade núbil por volta de 1892, aos dezesseis anos, a família teria imigrado entre este ano e 1894, data em que a família já residia na Rua Fernandes Vieira, em Porto Alegre. Assim, presumivelmente a família de Theodoro imigrou para o Brasil por volta de 1893,[13] tendo ele aproximadamente treze anos de idade.

Ainda não foram encontrados registros de partida ou chegada da família Nilles da Alemanha para o Rio Grande do Sul. Poderiam ter partido de Bremen ou Hamburgo; e poderiam ter chegado aos portos de Santos ou Rio de Janeiro. Certo é que, chegando ao Rio Grande do Sul, desembarcaram no Porto Velho de Rio Grande, no fim do século XIX.

Porto velho de Rio Grande, 1889. Autor desconhecido. Imagem disponibilizada por Fotos Antigas do RS (vide fontes). Editada por Helga.

Porto velho de Rio Grande, 1889. Autor desconhecido. Imagem disponibilizada por Fotos Antigas do RS (vide fontes). Editada por Helga.

 

Não se sabe exatamente qual foi o destino inicial da família, porém sabe-se que pelo menos um tio de Theodoro, chamado Francisco José (Franz Joseph) Nilles, casou-se duas vezes na Colônia Feliz, em 1889[14] e 1899,[15] e até pelo menos 1903, ali teve vários filhos; além disso, foi listado como eleitor na circunscrição de Caxias do Sul em 1909.[16] Porém é certo que em algum momento as famílias de Johann Joseph Nilles e de Franz Joseph Nilles, respectivamente pai e tio de Theodoro, tomaram rumos diferentes, sendo que o tio Franz parece ter pemanecido em Feliz, e a família do pai, João Nilles, já estava em Porto Alegre desde pelo menos 1900.[17]

 

Parte dois:
Ganhando asas no Brasil

2.1. O encontro com a noiva

Uma peça ainda em reconstrução da vida de Theodoro é o surgimento do elo com Henriqueta Eilert, que foi sua esposa. A Henriqueta é uma dessas pessoas de quem mais se sabe através de memórias do que de dados vitais. Mas sabe-se que ela tinha vínculos familiares com trabalhadores da área de encardernação e papelaria, e impressões de livros comerciais (tais como cadernos e livros de contabilidade, por exemplo). É possível que assim tenham se conhecido, como ocorria com freqüência, através de familiares que por sua vez se conheceram através do trabalho.

Ou ainda pode ser que tenham se conhecido em sociedade, estando ambos inseridos na comunidade germânica dos imigrantes alemães no Rio Grande do Sul. Somente em Porto Alegre, por exemplo, teriam sido várias as oportunidades de ampliar círculos sociais na comunidade dos alemães, como relata Núncia Santoro Constantino:[18]

“Aos poucos, bailes e festas nos clubes representaram novas formas de sociabilidade introduzidas pelos imigrantes alemães. Depois da Germânia, surgiu a Leopoldina homenageando a imperatriz austríaca dos brasileiros; em 1903 fundava-se o Clube Juvenil. Tornou-se comum, nas noites de sábado, foguetes anunciando bailes que iriam varar a noite, ou kerbs que passaram a fazer parte do calendário festivo porto-alegrense.”
[…]
“Permaneceram muitas dessas sociedades: Deutscher Turnerverein, sociedade de ginástica, os clubes de remo Ruder Club Porto Alegre, Ruder Verein Germania, Ruder
Verein Freundschaft, ainda que na guerra mudassem os nomes. Além de clubes
desportivos, havia outros de categorias profissionais. Exemplo é o Clube dos Caixeiros
Viajantes,‟[…] com o seu pequeno reservado só para drinks e decorado com humor[…], como escreveu Alfred Funke, admirado que encontrara clubes alemães “ […] de combatentes e cantores, ginastas e atiradores, ciclistas e remadores, evangélicos e católicos, trabalhadores e comerciantes […]”

 

Quaisquer tenham sido os meios do acaso, assim aconteceu de Theodoro encontrar Henriqueta, e com ela se casar, e por meio dela vir a ser pai de quatro meninas e muito mais tarde, um bisavô da Helga.

 

2.2. As mulheres de Theodoro

Às três e meia da tarde[17] no domingo de 23 de dezembro de 1900,[17] casou-se Theodoro com Henriqueta Eilert,[17] filha dos imigrantes alemães Pedro e Clara Eilert[17] (nascida Stamm). O casamento ocorreu em casa à Rua Arlindo, n.o 94,[17] em Porto Alegre. A Rua Arlindo não mais existe, e corresponde, a grosso modo, à atual Avenida Érico Veríssimo. Foram testemunhas do enlace Jorge Eilert Filho,[17] com vinte e oito anos, encadernador[17] e residente na Rua São Rafael (a atual Avenida Alberto Bins), n.o 35; e Frederico Guilherme Lehr, com trinta e oito anos, marcineiro e residente na Rua Garibaldi, n.o 3.

A antiga Rua Arlindo. Foto sem data, autor desconhecido. Acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, disponibilizada por Jornal Tabaré (vide fontes).

A antiga Rua Arlindo. Foto sem data, autor desconhecido. Acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, disponibilizada por Jornal Tabaré (vide fontes).

 

Theodoro casou bem jovem, ocasião na qual declarou ter vinte anos.[17] Fazendo as contas, conclui-se que, de fato, tinha dezenove anos. Talvez não quisesse parecer jovem demais, ou quisesse causar impressão de mais maturidade em Henriqueta, que estava, na realidade, quatro anos à frente de Theodoro, com vinte e três anos completos.[17] Não levou treze meses para que chegasse a primeira de várias filhas. Elas foram:

  1. Irma Nilles, nascida em 15 de janeiro de 1902,[19] em Porto Alegre,[19] e batizada em sete de setembro do mesmo ano,[19] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[19] Foram padrinhos a irmã de Theodoro, Hedwig Olga “Edwiges” Nilles, e seu noivo José Kohmann. [19] Casou com o ítalo-brasileiro Arlindo Giácomo.[2]

    wilma e irma nilles

    Wilma Nilles à esquerda, o mascote da casa, sentado,  e Irma Nilles, à direita. Ca. 1912. Acervo de família.

  2. Wilma Nilles, nascida em 10 de maio de 1904,[20] em Porto Alegre, e batizada em 9 de julho de 1905[20] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[20] Foram padrinhos a cunhada Emília Eilert e esposo, Francisco Subkoviak.[20] [2] Casou com o híspano-brasileiro João Justo Vargas Lopes[21]- que era muito estimado na família[22] – em 27 de julho de 1923[21] na Igreja Nossa Senhora da Piedade, Porto Alegre.[21].

    A lindíssima Wilma Nilles.

    Muito jovem e muito bonita, Wilma Nilles. Acervo de família.

  3. Erna Nilles, nascida em 30 de março de 1911[23] em Porto Alegre,[23] batizada em 1.o de maio[23] do mesmo ano, na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[23] Foram padrinhos a cunhada, Carlota Eilert,[2] e esposo, Germano Neumann.[23] Casada com Lothar Nascimento.

    Erna(1929)

    Irene e Erna Nilles no Carnaval de 1929 (a segunda e terceira respectivamente, no centro da foto). Acervo da Helga.

  4. Irene Nilles, filha caçula,[2] nascida em Porto Alegre e falecida em 19 de janeiro de 1946.[24]

 

Theodoro (bem alto) ao lado da esposa, Henriqueta, e as três meninas: Wilma, à esquerda, Irma à direita, e Erna no colo. Ca. 1913. Só faltou a caçula, Irene. Foto do acervo da família, colorizada por Helga.

E assim, Theodoro acabou rodeado de cinco mulheres. Com elas vivia em uma casa de madeira na Rua São Luiz, n.o 333, em Porto Alegre. As filhas estudavam no colégio Bom Conselho[2] e falavam o alemão em casa[2] como primeira língua. Talvez fizesse gosto a Theodoro que tivesse genros teuto-brasileiros como a família dele. Mas não era para ser: Theodoro pôde ver todas casadas, exceto Irene, que sofria de tuberculose[2] e que não chegou a sair de casa, vindo a falecer alguns anos depois dele.[24] Irma, Wilma e Erna casaram-se com brasileiros de origem italiana, espanhola e luso-açoriana, respectivamente.

 

2.3. O Cotidiano

Para imaginar a vida de Theodoro na Porto Alegre da virada até meados do século XX, acompanhando as mudanças ocorridas na cidade, precisamos nos desvencilhar quase completamente das noções de Porto Alegre dos dias de hoje. A densidade urbana, o ritmo de vida, as indumentárias, os hábitos de consumo, os meios de transporte, os estímulos sensoriais, a relação com a paisagem natural, o contato com as águas, enfim, tudo era a manifestação de um outro lugar no tempo, o qual passou por algumas mudanças espaciais drásticas. Theodoro vivia em outra Porto Alegre: vivia na beira de um Riachinho navegável. Trabalhava a poucos metros de uma orla natural no centro da cidade, e deve ter andado de bonde movido a mula até 1908, quando chegaram a Porto Alegre os bondes elétricos. Vivia muito próximo à Redenção, e no entanto, a zona era ainda pouco mais de um arraial, com algumas ruas e casas, e com um prado, ou seja, um campo de turfe – o antigo prado Boavista – praticamente na frente de casa.

 

A Porto Alegre de Theodoro. Feito por Helga.

A Porto Alegre de Theodoro. Feito por Helga.

Essas são, é claro, apenas algumas das muitas diferenças. O mapa acima mostra, esquematicamente, e provavelmente com qualquer equívoco, alguns dos pontos de interesse e rumos cotidianos da vida de Theodoro em Porto Alegre, sobrepostos à imagem de satélite dos dias de hoje. É especialmente notável o fluxo natural do Riachinho – atual Arroio Dilúvio – e a orla do Guaíba. No canto inferior direito, está a sua casa, de frente para o Prado Boavista. Se chegasse ao trabalho de bonde, caminharia até a Rua Santana e apanharia a Linha Parthenon E. Passaria pelas pontes de ferro, depois pela Escola de Guerra (o Colégio Militar), seguindo pela Avenida Bom Fim (atual Osvaldo Aranha), finalmente chegando ao centro, passando pelo Mercado e terminando na Praça Senador Florêncio (atualmente, Alfândega). Caminharia em direção à Praça José Bonifácio, chegando à Lithographia João Petersen. Faria o caminho inverso ao retornar para casa, com o mesmo bonde Parthenon E, o da luz verde. Talvez, num dia comum, pudesse aproveitar a luz intensa e dourada do entardecer de Porto Alegre, ao voltar para casa.

 

Bonds de Porto Alegre, 1910. Hemeroteca Digital Brasileira.

Bonds de Porto Alegre, 1910. Hemeroteca Digital Brasileira.

O endereço de Theodoro e família, na Rua São Luís, n.o 333, está inserido no bairro Santana e na época era já conhecido por este nome. Antes disso, pela metade do século XIX, era conhecido como Arraial São Miguel, onde, devido às condições insalubres ocasionadas pelas constantes enchentes do arroio, concentrava-se um perfil populacional dos absolutamente mais desfavorecidos e marginalizados. Porém, já ao final do mesmo século, intervenções melhoraram as condições do arraial – que passou a chamar-se Santana. Um campo dedicado ao turfe foi ali implementado. Existia já a ponte da Azenha, e outras foram construídas sobre o Riachinho dando continuidade à avenida Santana e ligando o bairro até a Escola de Guerra – atual Colégio Militar – através da linha do bonde. As pontes, os bondes e a proximidade com a Redenção fizeram do bairro Santana um local já bem mais miscigenado na época de Theodoro do que na época do Arraial São Miguel.

Muito próxima estava a família também do arroio. O arroio onde se lavava roupa, onde se pescava, onde se coletava água potável para abastacer a casa… era também o mesmo arroio que inviabilizava a locomoção urbana usual, o mesmo arroio que empapuçava as ruas de chão batido, e que por vezes devia também alagar ligeiramente a casa. Em alguma dessas ocasiões mais extremas, como chegaria Theodoro ao trabalho? Provavelmente nem precisaria trabalhar, pois a oficina litográfica onde ele trabalhava estava na Rua dos Andradas – até hoje, chamada de Rua da Praia – o que faz pensar que devesse fechar as portas quando havia inundação. Para chegar a algum outro lugar durante a cheia do Dilúvio, ou se quisesse fazer um passeio pictórico, talvez recorresse a um dos muitos canoeiros que transportavam passageiros e cargas, atravessando de margem a margem ou serpenteando os antigos meandros do Riachinho, passando pelas antigas pontes de ferro, ao longo da correnteza lenta e da exuberante mata ciliar.

 

Mas em algum dia ameno de brisa e sol,  talvez Theodoro preferisse caminhar. Em pouco menos de uma hora teria percorrido o percurso mais direto, ao longo da Redenção. Teria evitado as agruras do asfalto, das poluições química, visual e sonora. Teria ouvido os cascos dos muares, a fauna e a voz dos comerciantes, teria visto grandes porções de áreas verdes, e o jogo de cheios e vazios das construções e da ocupação urbana daquela época.

E teria, assim, chegado ao trabalho.

 

2.4. O Trabalho

Theodoro é descrito como litógrafo em duas ocasiões,[25] [5] o que não deixa dúvidas de que este foi o seu principal, senão seu único ofício na vida.

O trabalho de litógrafo de Theodoro poderia significar uma gama de atividades, desde a contribuição criativa no desenvolvimento das peças a serem reproduzidas em pequena escala ou em grandes tiragens comerciais, até a porção braçal e repetitiva do trabalho de impressão, que não era automatizado, mas inteiramente manual. Isso consistiria, principalmente, na limpeza, polimento, preparo e constante umidificação e pigmentação das pedras litográficas, e na manipulação das prensas, em incontável repetição, o que potencialmente seria um trabalho fisicamente exaustivo, ou mentalmente entediante, ou ambos.

Mais especificamente, Theodoro era funcionário desta ilustre desconhecida: a Lithographia João Petersen.[5] Fundada pelo ilustrador João Petersen, operou em Porto Alegre a partir de 1905[26] e localizava-se na Rua dos Andradas, n.o 402 entre 1908 e 1919,[27] e na Rua Cel. Vicente, n.o 11A entre 1922 e 1925.[28] Era conhecida comercialmente pelas impressões de rótulos de garrafas,[29] maços de cigarros, [30] partituras musicais, [31][32] além de mapas [33] e outros trabalhos de impressão e ilustração. Abaixo, alguns exemplos de trabalhos da impressão da Lit. João Petersen:

Do trabalho que Theodoro executava todos os dias, sobraram poucos ecos na modernidade. Segundo a falível memória da Helga – esta que vos escreve – em algum link obscuro do passado, o qual no momento não parece recuperável, Miriam Tolpolar, artista plástica e protetora da memória da litografia em Porto Alegre, contava que as pedras litográficas de várias gráficas, incluindo a de João Petersen, tendo se tornado inúteis comercialmente, tornaram-se matéria-prima para pavimentar as fundações de alguma rua de Porto Alegre. Os originais dos mapas impressos para a Secretaria da Agricultura, de acordo com informações extra oficias obtidas pelo arquiteto Luís Francisco da Silva Vargas, estão armazenados em local desconhecido desde 2011.[33]  Mas nem tudo se perdeu: as impressões para maços de cigarros são colecionáveis até hoje; e as músicas impressas e rótulos de garrafas estão disponíveis em vários acervos da cidade.

Algumas generalidades sobre a litografia:

O método de impressão litográfica, que Theodoro empregava diariamente, utiliza-se de uma certa qualidade de pedra calcária que é muito uniformemente porosa e receptiva a substâncias tanto aquosas como oleosas, que são repelentes entre si. Abaixo está uma galeria que procura ilustrar o processo básico da litografia tradicional, feita com blocos de pedra:
(clique para ampliar +info)

No caso de litografias coloridas – técnica chamada de cromolitografia – várias pedras diferentes eram preparadas, cada uma para cada cor a ser aplicada. Cada folha a ser impressa seria passada por todas as cores que se mesclam na imagem final, tornando o processo ainda mais complexo, demorado e trabalhoso. Por todos esses motivos de ordem prática relacionados à produção, a litografia para fins comerciais está em desuso, estando reservada para fins artísticos. Mesmo para os usos artísticos que primam pela qualidade sem comprometimentos, é considerada, na atualidade, uma técnica complicada, lenta e cara de reproduzir imagens – e assim, ficou sendo quase um capricho.

Quanto à cena da litografia comercial na virada do século XX em Porto Alegre, a maior parte das oficinas litográficas, a saber: as litografias Hirtz & Irmão, Weingartner e João Petersen, estavam todas muito próximas entre si, na Rua dos Andradas. Sendo que a litografia era uma das principais formas de impressão da época, todas deviam ter a sua fatia no mercado, cada qual com a sua especialidade característica. A Hirtz & Irmão, por exemplo, é listada como a única a imprimir em folha de flandres – o precursor do papel laminado que era particulamente útil para embalar alimentos. A litografia de João Petersen, que ganhou várias licitações para a impressão de mapas para Secretaria da Agricultura, também costumava produzir impressões que estampavam itens populares como rótulos, maços e música impressa, como exemplificado acima. Assim, a gráfica de João Petersen parece ter se inserido no mercado de impressões litográficas com o diferencial das grandes tiragens, produzidas a custos competitivos.

 

2.5. Atribulações

Alguns fatos que devem ter sido marcantes na vida de Theodoro dizem respeito à família, em particular a alguns insólitos e aleatórios episódios de envolvimento com as autoridades policiais. Theodoro deve ter sido afetado, por exemplo, quando a sua irmã, Edwiges, devido a atritos domésticos que parecem ter virado caso de polícia, acabou por separar-se do marido, e enfim, talvez para fugir ao estigma de mulher separada, tenha ido revisitar Essen na vida adulta, e depois, viver em Buenos Aires.

Outro evento que deve tê-lo preocupado foi a perseguição das autoridades à sua mãe, Emilie – mas esse tema ainda vai ser explorado em outro post, assim como outros aspectos da vida dela.

Além da família dividida entre Porto Alegre, Essen e Buenos Aires, em 1913, faleceu o pai de Theodoro, Johann Nilles.[34] Theodoro foi o declarante do falecimento[34] e o responsável pela organização de todas as praticalidades fúnebres. Transparece que não dispunha de um excedente financeiro suficiente para cobrir os custos funerários, pois recorreu a um empréstimo de João Petersen,[5] o chefe da “officina lithográphica” onde Theodoro trabalhava.

Theodoro tinha então 32 anos e três filhas. Já da sua mãe, Emilie, a última notícia que se tem é de 1918, a bordo de embarcação rumo ao porto de Rio Grande.

 

2.6. Doença e triste fim

Nos últimos anos de vida, Theodoro foi acometido por um tumor cancerígeno no lado esquerdo do pescoço.[2]

Theodoro nos últimos anos: já doente, usava a manta no pescoço para cobrir o tumor. Ca. 1940. Acervo de família.

Theodoro nos últimos anos: já doente, usava a manta no pescoço para cobrir o tumor. A expressão está séria, a mão direita fechada, enquanto na esquerda parece segurar um cigarro. Ca. 1940, Acervo de família.

– Auf Wiedersehen –

Theodoro faleceu ainda relativamente jovem, aos sessenta anos, em 27 de outubro de 1941,[25] em casa na Rua São Luiz n.o 333,[25] e devido aos sintomas do câncer. No dia seguinte, seu falecimento foi atestado medicamente e declarado legalmente pelo genro João Justo Vargas Lopes,[25] marido da filha Wilma. A causa da morte é descrita como “câncer na região cervical C e D, caquexia, asfixia[25]… o que, com tristeza, parece ser uma passagem especialmente difícil.

Passado o sofrimento físico, ao descansar Theodoro deixou vivas a esposa, as quatro filhas e alguns netos. Entre estes era lembrado pela rigidez, pela energia com que repreendia as brincadeiras com a suas conversas em alemão, enfim, pelo seu caráter austero e firme que foi particularmente memorável, mesmo entre netos que nunca o conheceram.[22] Seu aspecto físico era também marcante, sendo descrito como “alto, bonito, com os olhos azuis, claríssimos”.[2]

 

Cronologia

Data, idade na ocasião e breve descrição dos acontecimentos pessoais e históricos ao longo da vida de Theodoro

3 de agosto, 1881 0 Nasce Johann Theodor, filho de Johann Joseph Nilles e Marie Emilie Weißkopf, em Essen, Alemanha
31 de julho, 1883 2 Nasce a provável irmã, Maria Sibÿlla, em Essen
31 de dezembro, 1886 5 Nasce a irmã caçula, Hedwig Olga (Edwiges), em Essen
 ±1888 ±7 Atinge idade escolar
31 de dezembro, 1889 8 O tio Franz Nilles casa-se em Feliz, RS
 ±1893 ±12 A irmã primogênita, Augusta, atinge idade núbil e casa-se com “João” Wierig, em Essen
 entre 1893 e 1894 ±13 A família Nilles migra de Essen para o Rio Grande do Sul
3 de agosto, 1899 18 O tio Franz Nilles casa-se pela 2.a vez em Feliz, RS
23 de dezembro, 1900 19 Casa-se com Henriqueta Eilert, em Porto Alegre
15 de janeiro, 1902 21 Nasce a filha Irma, em Porto Alegre
14 de fevereiro, 1903 22 A irmã, Edwiges, casa-se com José Kohmann, em Porto Alegre
10 de maio, 1904 23 Nasce a filha Wilma, em Porto Alegre
1905 24 Separação de Edwiges
 1905 24 Registrada a 1.a enchente do século, em Porto Alegre
1905 24 Abre a Litographia João Petersen, em Porto Alegre
30 de março, 1911 29 Nasce a filha Erna, em Porto Alegre
1912 31 Registrada a 2.a enchente do século, em Porto Alegre
1.o de maio, 1913 31 Falece o pai, Johann Nilles
±1913 ±32 Nasce a filha caçula, Irene, em Porto Alegre
1914 33 Registrada a 3.a enchente do século, em Porto Alegre
1918 37 Última notícia da mãe, Emilie, rumo a Rio Grande
±1920 39 Casa-se a filha Irma com  Arlindo Giácomo
27 de julho, 1923 41 Casa-se a filha Wilma com João Justo Vargas Lopes, em Porto Alegre.
1925 44 Falece João Petersen, em Porto Alegre
21 de janeiro, 1933 51 Casa-se a filha Erna com Lothar Nascimento, em Porto Alegre.
1936 55 O nível do Guaíba sobre 3,22m além da cota, em Porto Alegre
maio de 1941 60 Pior enchente já registrada em Porto Alegre
27 de outubro, 1941 60 Falece em Porto Alegre

Fontes

Veja também:
  • Jornal Tabaré – Ilhados na miséria
  • Porto Alegre não demorou a dar as costas ao arroio
  • BrasilAlemanha – Porto Alegre, “a cidade dos alemães” durante um século – por Sílvio Aloysio Rockenbach
  • Almanaque Gaúcho – “Hirtz, o iniciador destemeroso” 
  • Gutenberg.org
  • Fotos Antigas RS – Flickr
  • Western Graphics Workshop
  • Porto Alegre, Uma História Fotográfica – Ronaldo Fotografia
  • História dos Bairros de Porto Alegre (PDF)
  • Lista de algumas publicações da Lithographia João Petersen:
    • Mapas e plantas:”(Nota: Litogravuras da Lit. João Petersen. De acordo com Luís Francisco da Silva Vargas, os originais estão armazenados em local desconhecido desde 2011.[33] Versões digitalizadas foram doadas ao Gabinete de Estudos e Pesquisa em Urbanismo (GEDURB), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.)[33]
      • Segundo esboço do “Schema de um Plano Geral de Viação” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas, Relatório de 1917a. 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:2.000.000.
      • Terceiro esboço do “Schema de um plano geral de viação” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas, Relatório de 1918a. 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:2.000.000.
      • Quinto esboço do “Mappa da Zona Norte do Estado” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas, Relatório de 1920a. 1 mapa, color. Litogravura João Petersen. Escala 1:2.000.000.
      • Sexto esboço do “Mappa da Zona Norte do Estado” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas, Relatório de 1921b. 2v., 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:2.000.000.
      • Nono esboço do “Schema dos trabalhos de Colonização. Schema de Viação, especialmente da Zona Norte. Dados estatísticos.” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas, Relatório de 1924b, 2v., 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:2.000.000
      • Décimo primeiro esboço do “Schema dos trabalhos e Colonização” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas. Relatório de 1926a, v.2, s/p. 1 mapa, color., desenhado por Ernani Muzell. Lit. João Petersen. Escala 1: 2.000.000
      • Cruzeiro do Sul, zona das fontes”. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas. Relatório das estâncias de águas do município da Palmeira. 1920c, s/p. 1 mapa, color. Lit.  João Petersen. Escala 1:500.
      • Croquis da zona das fontes – Valle do Rio Uruguay” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas. Relatório de 1921b, 2 v., s/p. 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:500.
      • Planta do balneário e immediações” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas. Relatório de 1925b, 2v., s/p. 1 planta baixa, color. Lit. João Petersen. Escala: 1:100.
      • “Planta da Séde de Jaguary” [sic]. Porto Alegre: Secretaria das Obras Públicas. Diretoria de Terras e Colonização [s.n.]. 1920. 1 mapa, color. Lit. João Petersen. Escala 1:10.000.
    • Música impressa:
      • LUZ, Vidalvino Sousa; GOUVEIA, Sérgio, letrista. <u>Danças : Oh! japão, Japão florido.</u>  Fox-Trot. Música impressa, sem número. Porto Alegre: Lit. João Petersen, 1900.
      • GRATIDÃO. Valsa. Porto Alegre: Litografia J. Petersen, s.d.
      • MARICAS. Tango sertanejo. Porto Alegre: Litografia João Petersen, 1924.
      • PAX. Valsa. Porto Alegre: Lit. João Petersen, s.d.

 

Agradecimentos

Primeiro, obrigada ao meu pai, por ter sido meu companheiro de pesquisas, documentação e preservação. Às filhas de Wilma Nilles, obrigada pelas memórias, passeios, histórias e fotografias. Ao Elvio, que é filho de uma dessas filhas, obrigada por digitalizar as fotos com tanto zelo e qualidade.

Mas principalmente ao Theodoro deixo aqui meu agradecimento sem dimensões, por, em consequência da vida que viveu, ter sido o meu segundo bisavô, um que a mim muito lembra o meu próprio pai. Qualquer semelhança não será mera coincidência.

Theodoro, ca. 1935.

Meu bisavô Theodoro, ca. 1935. Eu já tinha conhecido as feições deste rosto, os cabelos escuros, o bigode loiro e os olhos claros quando pequena, através do meu pai.

Profundamente, literalmente:

– Obrigada pela existência.

Da bisneta Helga, em março de 2015.

–×××–



Fontes
[1.1] [1.2] [1.3] [1.4] [1.5] Registro de nascimento de Johann Theodor Nilles. Deutschland, Essen. Staatsarchiv Essen. Geburtenbücher Standesamt I, Registernummer 1612.

Essen, am 3. August 1881 Der dem unterzeichneten Standesbeamten erschien heute, Persönlichkeit nach bekannt, der Fabrikarbeiter Johann Nilles, wohnhaft zu Essen, in der Borbecker Straße No 55, katholischer Religion, und zeigte an, daß von der Emilie Nilles, geboren Weisskopf, seiner Ehefrau, katholischer Religion, wohnhaft zu Essen bei ihre, zu Essen in seiner Wohnung am dritten August des Jahres tausend acht hundert achtzig und eins Nachmittags um ein Uhr ein Kind männlichen Geschlechts geboren worden sei, welches die Vornamen Johann Theodor erhalten habe. Vorgelesen, genehmigt und unterschrieben Johann Nilles Der Standesbeamte Rohm Der Ueberinstimmung mit hauptregister beglaubig, Essen, am 3ten August 1881. Der Standesbeamte.

Transcrição: “Essen, am 3. August 1881
Der dem unterzeichneten Standesbeamten erschien heute, Persönlichkeit nach bekannt, der Fabrikarbeiter Johann Nilles, wohnhaft zu Essen, in der Borbeckerstraße No 55, katholischer Religion, und zeigte an, daß von der Emilie Nilles, geboren Weisskopf, seiner Ehefrau, katholischer Religion, wohnhaft zu Essen bei ihre, zu Essen in seiner Wohnung am dritten August des Jahres tausend acht hundert achtzig und eins Nachmittags um ein Uhr ein Kind männlichen Geschlechts geboren worden sei, welches die Vornamen Johann Theodor erhalten habe.
Vorgelesen, genehmigt und unterschrieben
Johann Nilles
Der Standesbeamte
Rohm
Der Ueberinstimmung mit hauptregister beglaubig,
Essen, am 3ten August 1881.
Der Standesbeamte.

[2.1] [2.2] [2.3] [2.4] [2.5] [2.6] [2.7] [2.8] [2.9] [2.10] [2.11] Memórias das filhas de Wilma Nilles. Informações coletadas por Helga em várias conversas entre janeiro de 2013 março de 2014.
[3.1] [3.2] [3.3] [3.4] [3.5] [3.6] [3.7] [3.8] [3.9] Registro de casamento de Johann e Emilie Nilles. Deutschland, Essen. Staatsarchiv Essen. Heiratsbücher, Standesamt I, Register Nr. 248.Nilles und Weisskopf - Heirat
B.II.

Nr. 268

Essen am vierzehn Juni tausend hundert siebenzig fünf Vormittags elf Uhr.

Vor dem unterzeichneten Standesbeamten erschienen heute als Berlobte:

1. Der Tagelöhner Johann, Joseph Nilles der Person nach durch der von Person bekannten Bürogehülfen Joseph Wegmann anerkannt, katholische Religion, vier und zwanzig Jahre alt, geboren zu Reil, wohnhaft zu Essen in der Johanner Straße N.3, Sohn des verstorbener Tagelöhner Franz Nilles und dessen Ehefrau Susanna, Margarethe geb. Arns zu Reil

2. Die Marie, Emilie Weißkopf, ohne …. der Person nach dieses den  so. Wegmann bekannt, katholischer Religion, siebezehn Jahre alt, geboren zu Elbing, wohnhaft zu Essen, Glashütten No. 31, Tochter der Tagelöhner Robert Weiskopf zu Essen und diesen verstorben Ehefrau Eleonore, geb. Herrmann

sowie als Zeugen:

3. Der Dienstmann Joseph Lucas der Person nach bekannt, acht und dreizig Jahre alt, wohnhaft zu Essen in der … No.6

4. Der Fabrikarbeiter Nicolas Hebler, der Person nach … kannt… fünf und zwanzig Jahre alt, wohnhaft zu Essen in der … No. 18

Die …. erflärten vor dem Standesbeamten und in Gegenwart der Zeugen persönlich ihren Willen, die Ehe mit einander eingeben zu wollen.

Essen am 14ten Juni 1875

Der Standesbeamte.

[4] BATTISTI, Julio. ALEMANHA: Crescimento de uma potência. Acesso em 20 de fevereiro de 2015.
[5.1] [5.2] [5.3] [5.4] [5.5] [5.6] Trechos da partilha de bens de João Nilles. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Processo No. 317, Ano 1913.
DSC00051DSC00052DSC00054DSC00057
[6] Franz Wilhelm Nilles em Índice de nascimentos – 1877.Deutschland, Essen. Staatsarchiv Essen. Geburtenbücher Standesamt I, Essen 1877.Franz Nilles - Index 1877
[7] Maria Sibÿlla Nilles em Índice de nascimentos – 1886. Deutschland, Essen. Staatsarchiv Essen. Geburtenbücher Standesamt I, Essen 1886.
[8] Hedwig Olga Nilles em Índice de nascimentos – 1886. Deutschland, Essen. Staatsarchiv Essen. Geburtenbücher Standesamt I, Essen 1886Hedwig Nilles - 1886 index
[10.1] [10.2] TWAROG, Sophia. Heights and Living Standards in Germany, 1850-1939: The Case of Wurttemberg. (PDF). Chapter in the National Economic Bureau Research book title Health and Welfare during Industrialization (1997), Richard A. Steckel and Roderick Floud, editors.
[13] Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Processo Judicial / Ação Ordinária. Processo Nº 2606, 1896.
[14] Registro de casamento de Francisco Nilles, 1889, accessed 13 Feb 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Feliz: Santo Inácio: Matrimônios 1877, Jul-1903, Maio: image 54 of 105.
[15] Registro de casamento de Francisco Nilles, 1899, accessed 13 February 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Feliz: Santo Inácio: Matrimônios 1877, Jul-1903, Maio: image 93 of 105
[16] Notícia de Franz Nilles no edital de alistamento eleitoral, acessado em 14 de fevereiro de 2015. Hemeroteca Digital Brasileira. Periódico caxiense “O Brazil”, Caxias do Sul, Ano I, Ed.22, 12 de junho 1909. Pág.2, 4.a col., Seção “Edital”.
[17.1] [17.2] [17.3] [17.4] [17.5] [17.6] [17.7] [17.8] [17.9] [17.10] Registro de casamento de Theodoro Nilles e Henriqueta Eilert. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. 1.o Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais de Porto Alegre. Certidão de Casamento de Theodoro Nilles e Henriqueta Eilert, Matrícula N.o 096602 01 55 1900 2 00012 018 0000032 77. 

Casamento de Theodoro e Henriqueta

[18] CONSTANTINO, Núncia Santoro de. Nas horas vagas: Porto Alegre dos imigrantes (1880-1914) (PDF). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH: São Paulo, 2011
[19.1] [19.2] [19.3] [19.4] [19.5] Registro de batismo de Irma Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1902, Maio-1904, Nov: image 14 of 104.
[20.1] [20.2] [20.3] [20.4] Registro de batismo de Wilma Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1904, Nov-1907, Jun: image 29 of 105.
[21.1] [21.2] [21.3] Registro de casamento de Wilma Nilles, accessed 13 February 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952: Porto Alegre: Nossa Senhora da Piedade: Matrimônios 1916, Abr-1927, Abr: image 56 of 104.
[22.1] [22.2] Memórias do pai da Helga, coletadas em várias ocasiões.
[23.1] [23.2] [23.3] [23.4] [23.5] Registro de batismo de Erna Nilles, acessado em 13 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: Nossa Senhora da Conceição: Batismos 1911, Jan-1912, Dez: image 30 of 153.
[24.1] [24.2] Registro de óbito de Irene. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro de Pessoas Naturais da 2.a Zona. Registro de óbito de Irene Nilles. Matrícula 100024 01 55 1946 4 0031 017 0029134 78.
certidãoobito irene
[25.1] [25.2] [25.3] [25.4] [25.5] Registro de óbito de Theodoro Nilles. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cartório de Registro Civil da 2.a Zona de Porto Alegre. Registro de Óbito de Theodoro Nilles, Matrícula N.o 1000 24 01 55 1941 4 00021 173 0020814 18.
obito Theodoro Nilles
[26] BOHNS, Neiva Maria Fonseca. Continente Improvável: Artes Visuais no Rio Grande do Sul do final do século XIX a meados do século XX. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Instituto de Artes: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, 2005. Pag. 381.
[29] SANTOS, Paulo Alexandre da Graça. Mensagens nas Garrafas: O prático e o simbólico no consumo de bebidas em Porto Alegre (1875-1930). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas: Programa de Pós-Graduação em História: Doutorado Internacional em Arqueologia, 2009. Pág. 52, Nota 58.
[31] SOUZA, Márcio de. Mágoas do violão : mediações culturais na música de Octávio Dutra (Porto Alegre, 1900-1935). Porto Alegre, 2010.  Pág. 93, §1, §2 e §4.
[32] MUELLER, Carlos Braga. CarosOuvintes.org.br – Uma canção para Hercílio Luz. §4.
[33.1] [33.2] [33.3] [33.4] VARGAS, Luís Francisco da Silva. Saneamento e urbanização no Rio Grande do Sul durante os anos de 1916 a 1931: O papel da SOP – Secretaria de Obras Públicas. A cidade de Iraí como referência. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Faculdade de Arquitetura: Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. Dissertação de Mestrado, 2011. p.163, fig.86. p.170, fig.90. p.183, fig.102. p.186, fig.105. p.203, fig.113. p.208, fig.110. p. 272, fig. 168. p. 278, fig. 176. p. 281, fig.181. p.188, fig.288. p.401 e p.442.
[34.1] [34.2] Certidão de Óbito de Nilles João. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais da 4.a Zona de Porto Alegre. Matrícula N.o 099804 01 55 1913 4 00069 071 0001130 57.
obito de Joao Nilles

Maria Caetana de Araújo

Ela foi a força do feminino: em casa, ganhou doze filhos; em casa, trabalhava informalmente; e em casa, recebia o marido vindo do trabalho, por 39 anos.
Conheça a história de Maria Caetana de Araújo.

*01.08.1872 Tubarão SC          †16.11.1936 Tubarão SC

• Vide a genealogia de Maria Caetana de Araújo

Síntese

Maria Caetana de Araújo foi uma esposa e mãe de família que viveu em Santa Catarina entre 1872 e 1936. Nasceu em Tubarão, e viveu com o marido e os doze filhos em localidades ao longo do Vale do Rio Tubarão, nas proximidades da Ferrovia Tereza Cristina.

Maria caetana de Araújo. Único retrato encontrado até agora.

Maria Caetana de Araújo. Único retrato. Acervo da Helga.

Parte 1: Crescendo em Tubarão e São Joaquim da Costa da Serra

1.1. O começo

1.1.1. Batismo

Maria Caetana de Araújo nasceu 1º de agosto de 1872[1] em Tubarão ou arredores,[1] Santa Catarina. Filha legítima[1] de Caetano Joaquim da Silva Araújo[1] e de Guilhermina Silvina de Souza[1], neta paterna de Joaquim Borges de Araújo[1] e Joaquina Inácia da Silva,[1] e neta materna de Manoel Mendes de Souza[1] e Maria Silvina de Souza, foi batizada em Tubarão,[1] aos 15 de agosto de 1872,[1] tendo como padrinho João Martinho de Mendonça[1] e como madrinha a invocação de Nossa Senhora.[1]

 

A antiga capela em Tubarão em 1879, antes da construção da matriz Nossa Senhora da Piedade. Foto do Arquivo Público de Tubarão, disponibilizada por BioTavares (vide fontes). Autor desconhecido.

A antiga capela em Tubarão em 1879, antes da construção da matriz Nossa Senhora da Piedade. Foto do Arquivo Público de Tubarão, disponibilizada por BioTavares (vide fontes). Autor desconhecido.

Segundo o texto do registro de batismo, Maria foi batizada “em Tubarão”, mas não há menção exata de lugar. A foto acima é da antiga capela de Tubarão, anterior à construção da Catedral Nossa Senhora da Piedade de Tubarão da foto abaixo, que começou a ser erguida justo em 1872. Imagino que Maria Caetana teria assistido, durante a sua infância, à construção da catedral que, apesar de bem marcante e da aparência muito sólida, foi demolida um ano antes de completar cem anos, em 1971.

Atraente: a fachada que não mais existe e cuja construção Maria Caetana teria acompanhado, na infância em Tubarão. Imagem disponibilizada por DiariodoSul.com.br (vide fontes). Século XX, autor desconhecido. Acervo da UFCS. Editada por Helga.

 

1.1.2. O que diz um nome

Maria Caetana foi a segunda filha do casal a ser batizada com este nome, sendo a primeira filha Maria nascida em 1864.[2] Desta forma, Maria foi possivelmente assim chamada para homenagear a irmã primogênita que provavelmente faleceu na infância, conforme o costume da época.

Outro costume onomástico a que Maria Caetana aderiu era o de adicionar um nome do meio ao nome de batismo. Assim, o nome do meio de Maria Caetana foi uma homenagem ao pai, Caetano Joaquim. O nome do meio não era definido na pia batismal, e, assim como a escolha do sobrenome em idos tempos, em geral seguia os vínculos de afinidade entre os entes da família.

 

1.1.3. Antes de Maria Caetana – as irmãs sem mais notícia

As primeiras filhas dos pais de Maria Caetana não deixam mais rastros documentais além dos seus registros de batismo, e assim, presume-se que tenham falecido na infância. Elas foram:

  • Maria, nascida em 6 de maio de 1864 e batizada no dia seguinte, em Tubarão.[2] Padrinhos: os avós maternos. Sem mais notícia.
  • Lídia, nascida em 13 de outubro de 1865 e batizada sete dias depois, Tubarão.[3] Padrinhos: os avós maternos.  Sem mais notícia.
  • Belmira, nascida em 1º de janeiro de 1869, batizada em 20 de janeiro de 1869, em Tubarão.[4] Padrinhos: José da Silva Araújo e Ana Joaquina. Sem mais notícia.

Nenhuma das três meninas – Maria (a primogênita), Lídia e Belmira são mencionadas como filhas na ocasião da morte do pai,[5] Caetano. Os padrinhos de Lídia eram os mesmos de Maria, como a indicar que Maria teria falecido ainda antes de Lídia ser batizada, pois em geral, havia uma certa rotatividade nas escolhas de padrinhos dos filhos. Outro indício de que Lídia poderia ter falecido jovem é a adoção do seu nome como nome do meio por parte da irmã Hermínia, que passou a chamar-se Hermínia Lídia.

 

1.1.4. Proteção de Nossa Senhora

De forma a propiciar alguma forma de proteção divina a esta segunda Maria – que ao que parece, seria a primeira filha do casal a ter vida longa – foi-lhe escolhida como madrinha a invocação de Nossa Senhora. Como observa Rômulo Garcia de Andrade, “Venâncio [Renato Pinto] abordou a ausência fisica de mulheres na cerimônia de batismo de pessoas livres […] A opção por N. Sra. como madrinha embutia uma permuta: N. Sra. ganhava um afilhado e em troca protegia a mãe na hora do parto.[6]

 

1.2. A infância

1.2.1. Depois de Maria Caetana

Felizmente, a família continuou crescendo desde o nascimento de Maria Caetana. É interessante notar que ela acabou por ter uma posição mutante na família, dependendo de quanto tempo de convívio pôde ter com as irmãs maiores. Pode ser que tivesse sido uma irmã do meio, que depois virou a irmã maior. Ou simplesmente, não tendo memória das irmãs mais velhas, pensasse sempre ter sido a primogênita. Os irmãos que vieram depois de Maria foram:

  • Antonio Caetano de Araújo,[5] nascido em cerca de 1874, em Tubarão;
  • José Lizenando de Araújo, nascido em 25 de julho de 1876 e batizado em 13 de agosto do mesmo ano, em Tubarão.[7]
  • Hermínia Lídia de Araújo,[5] nascida em cerca de 1878, talvez em São Joaquim;
  • Garcindo Bonifácio de Araújo,[5] nascido em cerca de 1880, talvez em São Joaquim;
  • Honorina Araújo, nascida em  4 de outubro de 1883, e batizada 20 dias depois, em Tubarão.[8]
  • João Elpídio de Araújo,[5] nascido em cerca de 1890, talvez em Tubarão.
 1.2.2. Vistas marcantes de Tubarão

Seguem algumas fotos de Tubarão, como ou semelhantes ao que Maria Caetana teria conhecido na sua primeira infância, junto com seus irmãos pequenos:

1.2.3. Os mais velhos

Avós e tios em Tubarão e Laguna

As três irmãs de Maria Caetana tiveram como padrinhos os avós maternos (Manoel Mendes de Souza e Maria Silvina de Souza) e tios paternos (José da Silva Araújo e Ana Joaquina), sendo moradores das freguesias de Tubarão e Laguna, que são cidades vizinhas entre si. As irmãs de Guilhermina de Souza e esposos, a saber: Íria Correa de Souza e esposo, José Constantino da Silva, e Clarinda Silvina de Souza, casada com Pedro de Bittencourt, foram respectivamente padrinhos de José e Honorina, irmãos de Maria Caetana. Assim, é certo que havia bons vínculos de afetividade com os avós e tios. Mas, tendo em mente as futuras mudanças da família, o convívio com os familiares em Tubarão e Laguna pode ter sido prejudicado.

 Origens

Assim como o marido José Sebastião, Maria Caetana definia-se como “filha da terra”;[9] e, de fato, apesar de ser quase sempre muito açoriana, a ascendência distante de Maria tem também origens indígenas enraizadas na época do Brasil Colônia, através da avó paterna Joaquina Inácia da Silva.

A imagem abaixo mostra a família mais próxima de Maria Caetana, exceto marido e filhos:  os pais, avós, irmãos e respectivos cônjuges, e os tios que foram também padrinhos e madrinhas dos irmãos de Maria.

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Familiares mais próximos de Maria Caetana (exceto marido e filhos).

 

 

1.2.4. Escolaridade

A única evidência de alguma escolariadade de Maria Caetana é o fato de ter sido alfabetizada, demonstrando certa destreza ao assinar o nome. Provavelmente, freqüentou a escola primária de Tubarão.

No contexto do segundo império, a alfabetização de Maria Caetana foi um privilégio. Em 1867, cerca de 12 anos antes de sua idade escolar, somando-se todas as províncias do Brasil, “[…] Aproximadamente, dos 1.200.000 indivíduos em idade escolar, apenas 120 mil recebiam instrução primária, ou seja, a décima parte da população, ou ainda um indivíduo por 80 habitantes. [AZEVEDO, 1958, p. 82]”[10](grifo adicionado).

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A última assinatura de solteira de Maria Caetana. Pedras Grandes, 18 de novembro de 1892.

Colégio São José, ca. 1890. Exemplar de uma escola em Tubarão, na época da idade escolar de Maria Caetana. Imagem disponibilizada por Tubarão antigo (vide fontes). Autor desconhecido.

Colégio São José, ca. 1898. Exemplar de uma antiga escola em Tubarão. Imagem disponibilizada por “Tubarão antigo” (vide fontes). Autor desconhecido.

 

1.2.5. São Joaquim da Costa da Serra

Entre 1880 e 1882, o pai de Maria Caetana trabalhou em São Joaquim da Costa da Serra. Depois, a família parece ter retornado a Tubarão. Maria Caetana deve ter tido lembranças das particularidades geográficas de São Joaquim, com o terreno acidentado característico da serra catarinense, e sendo uma das três cidades mais frias do Brasil. Neste ínterim a educação de Maria Caetana e de seus irmãos deve ter ficado em família, já que Caetano Joaquim foi professor da freguesia neste período.

 

Neve em São Joaquim. Wikimedia Commons, 2015.

 

Parte 2: A vida em Pedras Grandes

2.1. A mudança para Pedras Grandes

A trajetória de Caetano Joaquim é a melhor evidência (e de fato, a única) para estimar a data em que a família de Maria Caetana se radicou nos arredores de Pedras Grandes. A última notícia de Caetano em Tubarão data de 1883, e já em 1892, é residente em Pedras Grandes. Logo, a mudança ocorreu em cerca de 1887, com uma margem de erro de cinco anos para mais ou para menos.

Pedras Grandes e suas redondezas – ou seja, Azambuja, Palmeiras (atual Pindotiba), Oratório (parte de Orleães), todos são locais em que os pesonagens principais da vida de Maria Caetana fazem suas aparições. Azambuja foi a primeira colônia italiana de Santa Catarina. Orleães foi uma colônia onde assentaram-se imigrantes da Itália, Alemanha, Letônia, Polônia, e também colonos nacionais.

Desta vez, diferente de um grande centro, como Tubarão, e não exatamente como uma freguesia mais isolada e remota que era São Joaquim da Costa da Serra, a morada da família em Pedras Grandes era um peculiar apanhado de novas freguesias e colônias nos arredores das minas de carvão. Ligando todos os locais relevantes da vida de Maria Caetana, estavam, em incessante movimento, a correnteza do Rio Tubarão e a fumaça da Ferrovia Tereza Cristina, na qual trabalhou o seu futuro marido, José Sebastião.

Seguem algumas fotos atuais de Pedras Grandes e o Rio Tubarão, que ainda devem em muito lembrar a época em que Maria Caetana ali vivia:

 

Muito determinante no cotidiano, no normal andamento econômico, na paisagem, nas características visuais e sonoras da região, no imaginário local, enfim, fundamental na identidade do lugar, era a estrada de ferro Dona Tereza Cristina.

Na galeria abaixo, estão mapas de localização da E.F.D.T.C. e uma uma seleção de fotos antigas de localidades do trecho Lauro Müller – Laguna.

 

Para os curiosos, segue vídeo da Tereza Cristina, funcionando em 2013 – disponibilizado por Andreas Illert:

 

2.2. O encontro com José Sebastião

Em Pedras Grandes, Maria Caetana conheceu o futuro marido, José Sebastião do Nascimento, vindo da freguesia de São Miguel, ao lado da parte continental da Capital. Em Pedras Grandes, casou e teve a maior parte de seus filhos. Portanto, deve ter vivido a fase mais marcante da sua vida naquele lugar.

Há uma série de possíveis conexões entre a família de Maria Caetana e José Sebastião: as funções na Guarda Nacional, na polícia, e vínculos em comum: José Avelino Pacheco dos Reis e Boaventura Costa de Mello, com quem José Sebastião trabalhou diretamente, tiveram ligação com o pai de Maria Caetana, por exemplo. As afinidades políticas também são um possível vínculo, considerando que o partido republicano era o mais amplamente apoiado na época.

 

2.3. Casamento

Maria Caetana casou-se aos 20 anos [11] com José Sebastião do Nascimento,[11] em cerimônia civil em casa das audiências do Juiz de Paz Roberto Schufler, em Pedras Grandes[11] em 18 de novembro de 1892.[11] Foram testemunhas José Avelino Pacheco dos Reis,[11] de 41 anos, negociante e residente em Pedras Grandes,[11] e Friedrich Dörner,[11] de 31 anos, seleiro e residente na freguesia de Tubarão.[11] A cerimônia religiosa aconteceu na capela de Pedras Grandes,[12] em 7 de fevereiro de 1893,[12]terça-feira, sendo testemunhas José Maurício dos Santos,[12] e novamente José Avelino Pacheco dos Reis.[12]

 

a igreja de Pedras Grandes. Imagem disponibilzada por Portal de Pedras Grandes (vide fontes) Sem data, autor desconhecido.

Assinatura de casada de Maria Caetana. Pedras Grandes, 4 de junho de 1910.

2.4. Filhos

Ao longo de seus quase trinta e nove anos de casamento com José, Maria Caetana teve doze filhos nos primeiros vinte e dois anos de casada, de modo que como ocorre, o movimento da família se reflete nos registros de nascimento da prole.

Em poucos mais de duas décadas muito intensas, Maria Caetana e José Sebastião tiveram os seguintes filhos:

    1. Leovegildo Elói Nascimento, nascido em 19 de dezembro de 1893, em Pedras Grandes. Testemunhas: José Avelino Pacheco dos Reis e Isaac Antunes de Medeiros.[13]
    2. Adolpho Nascimento, nascido em 19 de junho de 1895, em Pedras Grandes. Testemunhas: Boaventura Costa de Mello e Isaac Antunes de Medeiros.[14]
    3. Laura Nascimento, nascida às 5 horas e 30 minutos de 2 de novembro de 1896, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e Jacintho Eleodoro Nunes.[15]
    4. Dimas Nascimento, nascido às 16 horas e 30 minutos de 10 de abril de 1898, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e José Francisco Borges.[16]
    5. José Carlos Nascimento, nascido às 21 horas de 24 de setembro de 1899, em Pedras Grandes. Testemunhas: Antonio Bratti e Manuel Francisco Godinho.[17] Como sugere uma foto de família, José Carlos, conhecido como Joca, teria completado Bodas de Prata em 1947, em Canoas, Rio Grande do Sul.

      Possivelmente, José Carlos, o tio "Joca" e família, em 1947, Viamão. Acervo de família.

      (Foto de família ainda não identificada) – Possivelmente, no centro está José Carlos, o tio “Joca”, ao lado da esposa e filhos, em 1947, em Canoas, Rio Grande do Sul. Acervo da Helga.

    6. Pedro Nascimento, nascido em 5 de janeiro de 1902, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e Sabino Luciano Pereira.[18]
    7. Paulo Nascimento, nascido às 6 horas de 1.o de julho de 1903, em Pedras Grandes. Testemunhas: João Rodrigues Machado e Manoel José Pereira.[19]
    8. João Pio Nascimento, nascimento estimado por volta de 1904, em Orleães. Casou em 1935 com Beatriz Kochler, em Porto Alegre[20] Foi testemunha o irmão mais moço, Lothar.[20] As fotos abaixo pertenciam a Lothar Nascimento e são de um de seus irmãos, porém ainda não identificado. Assim sendo, estão atribuídas a João Nascimento, com quem Lothar, que morava em Porto Alegre, teria mais chances de ter mantido contato. Fotos do acervo da Helga.PB sem verso0002 Fotos PB0024
    9. Maria Nascimento, nascimento estimado por volta de 1907, em Orleães.
    10. Lothar Nascimento, nascido em 29 de outubro de 1909, na localidade de Oratório, Orleães. Testemunhas: Jorge Salomão Boabard e João Antonio da Motta.[21] Casou-se com Erna Nilles em Porto Alegre, em 1933.

      Lothar Nascimento, a esposa Erna, e os primeiros dois filhos, no Natal de 1942.

      Lothar Nascimento, com a esposa Erna, e os primeiros dois filhos do casal, no Natal de 1942. Acervo da Helga.

    11. Antonia Nascimento, nascimento estimado por volta de 1912, em Orleães ou Tubarão.
    12. “Dona Lôra” Nascimento, (é usado o apelido para proteger a privacidade) nascida em 1915 em Tubarão.
      Com quase 100 anos, continua lúcida e ativa (fevereiro de 2015). Muitas exclamações não bastariam para expressar a sorte de poder ter conhecido a Dona Lôra.

 

2.6. A vida de esposa e mãe

Segundo as memórias da família,[9] Maria cuidava dos doze filhos, e desenvolvia vários trabalhos complementares à renda familiar, utilizando os dotes da costura e outras técnicas que havia aprendido com a mãe Guilhermina. Maria acordava em torno das quatro da madrugada para se dedicar à casa e ao trabalho, e “sempre fez de tudo pelos filhos, pelo marido, para que não faltasse nada”.[9]

Abaixo, está um gráfico simples mostrando, em bege, os períodos gestacionais, em terracota, os períodos pós-parto, e em azul, do claro ao anil, o número de filhos para tomar conta crescendo.

gravidezMC

Gráfico: períodos gestacionais, de pós-parto e o aumento da família. Feito por Helga, fevereiro de 2015.

As peripécias do marido

José Sebastião, além do trabalho, cumpriu também o papel de delegado de Pedras Grandes entre 1894 e 1896.[22]

Para melhor entender as atribuições de subdelegado, segue abaixo um relato da época, extraído de texto de Felipe Genovez:[23]

“O Chefe de Polícia Interino – Fernando Caldeira de Andrade em Relatório datado de 30 de junho de 1893, sobre autoridades policiais da Capital, assim se reporta:
“Exercem as funcções de commissario e sub-commissario d’esta capital os prestimosos e dedicados cidadãos João do Prado Lemos, Nuno da Gama d’Eça e Annimbal José de Abreu, cuja actividade, por demais comprovada no exercício de tão espinhosos cargos, merece por parte de vossa honrada e patriotica administração os mais sinceros encomios. De facto só o patriotismo, a dedicação sem limites pela segurança pública, levam a tão nobres caracteres acceitarem tão arduas funcções, onde gastam quasi toda a sua actividade economica com os esforços inauditos, roubando aos seus affazeres muitissimas horas que se consomem muitas vezes com sacrifícios de sua saude e quem sabe, da propria vida. (…)”. (grifo adicionado)

Maria Caetana não deve ter reclamado quando José Sebastião saiu do corpo de polícia sendo exonerado a pedido, enquanto ela já esperava a terceira filha do casal.

Acima: Notícia da exoneração a pedido de José Sebastião do Nascimento em 5 de julho de 1896, publicada no dia 18 do mesmo mês e ano no jornal "A Republica" (vide 2.a linha da 2.a coluna). Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira.

Acima: Notícia da exoneração a pedido de José Sebastião do Nascimento em 5 de julho de 1896, publicada no dia 18 do mesmo mês e ano no jornal “A Republica” (vide 2.a linha da 2.a coluna). Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira.

 

2.7. Irmãos e cunhados

Maria Caetana e família usufruíam da proximidade física dos familiares mais chegados. De seis dos irmãos de Maria Caetana, há notícia de cinco morando, casando-se e constituindo família nos arredores de Pedras Grandes, como listado a seguir:

  • Antonio Caetano de Araújo casou com Lucinda Cardoso de Bittancourt, em 27 de julho de 1901, em Azambuja;[24]
  • José Lizenando de Araújo casou com Maria Alexandrina de Jesus, em 14 de julho de 1906, em Azambuja.[25] José Sebastião foi testemunha, Maria Caetana não assinou o documento, no entanto provavelmente era considerada como uma madrinha de casamento.
  • Hermínia Lídia de Araújo casou com Isaac Antunes de Medeiros, em 7 de setembro de 1893, em Pedras Grandes.[26] Maria Caetana e José Sebastião foram testemunhas.
  • Garcindo Bonifácio de Araújo casou com Maria Feliciana de Jesus, em 5 de fevereiro de 1910, em Pedras Grandes.[27] José Sebastião foi testemunha legal, Maria Caetana não assinou a ata, como no casamento de José Lizenando.
  • João Elpídio de Araújo casou com Doralice Rodrigues em 24 de janeiro de 1914, em Pedras Grandes.[28]

Como se nota, Maria Caetana e seu marido foram testemunhas de três destes casamentos: o de Hermínia Lídia, José Lizenando e Garcindo Bonifácio, reforçando a idéia de que ela teria assumido o papel da irmã maior, prestando auxílio e sendo especialmente benquista entre os irmãos mais novos.

 

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Familiares de Maria Caetana, detalhe. Pais, irmãos e cunhados na região de Orleans e Pedras Grandes.

 

 

2.8. O primeiro grande luto

No inverno de 1911,[5] em 20 de junho,[5] Maria Caetana perdeu o pai, Caetano, a quem havia homenageado com o segundo nome, que faleceu de pneumonia.[5] Maria Caetana tinha então 38 anos e dez filhos, e estava possivelmente grávida de um décimo primeiro rebento. Apesar da tristeza de Maria Caetana, é fácil imaginar como a vida, o cotidiano intenso e as dificuldades em pouco tempo a tenham absorvido, sem talvez ter-lhe permitido um período mais prolongado de luto.

 

 2.9. Momento histórico

Assim como José Sebastião, Maria Caetana viveu em época de importantes mudanças no curso da história Brasil. Mais uma vez, assim como no caso do marido, não que para ela tenha feito uma enorme diferença: sua vida, afazeres, situação econômica, seguiram sem grandes mudanças. Mas ela deve ter podido observar – talvez com surpresa, como boa parte da população – a Abolição e a instalação do novo regime republicano, aos 15 e 17 anos, respectivamente.

Também cabe aqui fazer referência ao meu comentário sobre a inserção cultural de José Sebastião, que se aplica também a Maria Caetana:

“Antes de se estabelecer em definitivo em Tubarão, José Sebastião Maria Caetana e família viviam na localidade de Oratório, em Orleães. Os sogros pais, com quem deve ter tido contato mais freqüente do que com os próprios familiares consangüíneos, moravam na localidade de Palmeiras (atualmente, Pindotiba), também em Orleães. Pedras Grandes e Orleães foram inicialmente colônias destinadas a assentar, na sua maioria, colonos vindos da Itália, Letônia, Polônia, e também – note, também colonos nacionais.

Duas testemunhas de nascimento de seus filhos e uma do seu casamento, por exemplo, eram Antonio Bratti, Jorge Salomão Boabard e Frederico (assinou “Friedrich”) Dönner – que aparentemente seriam imigrantes. Dois de seus filhos receberam nomes muitos mais comuns entre alemães do que entre lusófonos – Adolpho, em 1895, e Lothar, em 1909.

Como explicado anteriormente, ele ela não se autodefinia e nem se apresentava como sendo de origem tão-somente lusitana. Portanto, nada leva a crer que xenofobia ou eurocentrismo estivessem no dicionário de José Sebastião Maria Caetana. Pelo contrário, um dos aspectos interessantes da vida dele dela é a multiculturalidade do seu universo, que estaria ainda hoje à frente de muitas mentes tacanhas.” (riscos e adendos adicionados).

 

Parte 3: Filha pródiga

3.1. O retorno

Por algum motivo, possivelmente profissional, a família mudou-se para Tubarão. A sede da ferrovia já havia sido transferida para o grande centro desde 1906, mas as últimas pegadas da família em Orleães datam ainda de 1909. Talvez preferissem estar, por mais tempo que pudessem permanecer, mais perto da família, em Orleães; ou talvez, a presença de José Sebastião junto à sede tenha se dado somente mais tarde, talvez após um eventual período prolongado de reparos da estrada nos arredores de Pedras Grandes.

Após o nascimento do décimo filho em Orleães, Maria Caetana ainda teve mais duas filhas, das quais a última, certamente em Tubarão, em 1915. Das memórias desta filha caçula, ficou a imagem da fortaleza de Maria Caetana, pondo sempre em primeiro lugar as atribuições de esposa e mãe.

Em 23 de janeiro de 1922,[29] a mãe de Maria Caetana, Guilhermina, faleceu de “doença da pleura”,[29] ainda no mesmo distrito de Palmeira (atual Pindotiba, em Orleães) – onde morava há decadas. Maria visitava Guilhermina raramente, estando sempre muito ocupada dos filhos e dos trabalhos em casa.[9] As visitas ocasionais requeriam uma viagem relativamente longa, provavelmente a bordo do trem de passageiros da Tereza Cristina.

 

3.2. Viuvez

Maria Caetana enviuvou às duas horas da tarde de 19 de janeiro de 1931,[30] aos 58 anos e contando 39 anos de casamento. O marido, José Sebastião, faleceu um dia antes de completar 71 anos. No dia seguinte, que seria aniversário do finado, além do sepultamento, aconteceu também a festa de São Sebastião, que ocorre sempre em 20 de janeiro. Em meio a tantos sentimentos simultâneos, Maria Caetana ao menos não estava sozinha: no mínimo, a sua filha caçula tinha ainda 15 anos,[9] e ainda estaria em sua companhia por alguns anos.

A procissão de São Sebastião ocorre em várias cidades do Brasil todos os anos no 20 de janeiro. Foto: Beth Santos/ PMRJ via FotosPublicas.com.

A procissão de São Sebastião ocorre em várias cidades do Brasil todos os anos no 20 de janeiro. Foto: Beth Santos/ PMRJ via FotosPublicas.com.

 

Fotografia antiga de um cortejo fúnebre em Tubarão, ao que parece subindo a ladeira em direção à Igreja Matriz. Imagem disponibilzada por ConhecimentoGeral.com. Sem data, autor desconhecido.

Fotografia antiga de um cortejo fúnebre em Tubarão, ao que parece subindo a ladeira em direção à Igreja Matriz. Imagem disponibilzada por ConhecimentoGeral.com. Sem data, autor desconhecido.

 

3.3. Final

Quase seis anos depois a morte do marido, veio ela a falecer por assistolia,[31] às doze horas do dia 15 de novembro de 1936,[31] em Tubarão,[31] conforme atestado do Dr. Asdrúbal Costa (o mesmo que atestou o falecimento do marido, José). Foi declarante da morte de Maria Caetana o Sr. Julio Victor Rodrigues, ferroviário, em 16 de novembro. Maria faleceu aos 64 anos, deixando vivos os seus doze filhos, espalhados por várias localidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

 

Cronologia

Data, idade na ocasião e breve descrição dos acontecimentos pessoais e históricos ao longo da vida de Maria Caetana

1.o de agosto, 1872 0 Nasce, filha de Caetano Joaquim da Silva Araújo e Guilhermina Silvina de Souza, em Tubarão
15 de agosto 1872 0 É batizada em Tubarão, afilhada de João Martins Mendonça e Nossa Senhora
±1874 ±2 Nasce o irmão Antonio Caetano, em Tubarão
25 de julho, 1876 4 Nasce o irmão José Lizenando, em Tubarão
 ±1878 ±6 Nasce a irmã, Hermínia Lídia
±1880 ±8 Nasce o irmão, Garcindo Bonifácio
±1881 ±9 Período em São Joaquim da Costa da Serra
±1883 ±11 Retorno a Tubarão
4 de outubro, 1883
11 Nasce a irmã, Honorina, em Tubarão
1887 ±15 Parte da ferrovia é destruída pela enchente do Rio Tubarão
entre
1883 e 1892
±15 Mudança para Pedras Grandes
13 de maio, 1888 15 Promulgação da Lei Áurea
15 de novembro, 1889 17 Proclamação da República
18 de novembro, 1892 20 Casamento civil com José Sebastião do Nascimento, em Pedras Grandes
7 de fevereiro, 1893 20 Casamento religioso com José Sebastião do Nascimento, em Pedras Grandes
14 de junho, 1893 20 O marido é nomeado Tenente em Tubarão
7 de setembro, 1893 21 É testemunha de casamento da irmã, Hermínia, com Isaac Antunes de Medeiros, em Pedras Grandes
19 de dezembro, 1893 33 Nasce o primeiro filho, Leovegildo Elói, em Pedras Grandes
28 de abril, 1894 21 O marido é nomeado Subcomissário de Polícia de Pedras Grandes
19 de junho, 1895 22 Nasce o 2.o filho, Adolpho, em Pedras Grandes
5 de julho, 1896 23 O marido é exonerado a pedido do cargo de Subcomissário de Polícia de Pedras Grandes
2 de novembro, 1896 24 Nasce a 3.a filha, Laura, em Pedras Grandes
10 de abril, 1898 25 Nasce o 4.o filho, Dimas, em Pedras Grandes
24 de setembro, 1899 27 Nasce o 5.o filho, João Carlos, em Pedras Grandes
27 de julho, 1901 27 Casa-se o irmão Antonio Caetano, em Azambuja.
5 de janeiro, 1902 29 Nasce o 6.o filho, Pedro, em Pedras Grandes
1902 30 Donna Thereza Christina Railway Company deixa de operar. A ferrovia é adotada pelo o governo brasileiro.
1.o de julho, 1903 30 Nasce o 7.o filho, Paulo, em Pedras Grandes
±1904 ±32 Nasce o 8.o filho, João, em Orleães
14 de julho, 1906 33 Casa-se o irmão José Lizenando, em Azambuja.
±1907 ±35 Nasce a 9.a filha, Maria, em Orleães
29 de outubro, 1909 37 Nasce o 10.o filho, Lothar, em Orleães
5 de fevereiro, 1910 37 Casa-se o irmão Garcindo Bonifácio, em Pedras Grandes.
20 de junho, 1911 38 Falece o pai, Caetano Araújo.
±1911 ±39 Retorna a Tubarão
±1912 ±40 Nasce o 11.a filha, Antonia, em Orleães ou Tubarão
24 de janeiro, 1914 41 Casa-se o irmão João Elpídio, em Pedras Grandes.
1915 42 Nasce o 12.a filha, Dona Lôra, em Tubarão
23 de janeiro, 1922 49 Falece a mãe, Guilhermina de Souza.
±1922 ±50 Casamento do filho João Carlos, talvez em Canoas, no Rio Grande do Sul
19 de janeiro, 1931 58 Falece o marido, José Sebastião
15 de novembro, 1936 64 Falece por assistolia, ao meio-dia.

 

Agradecimentos

Primeiro, obrigada ao meu pai, por ter sido meu companheiro de pesquisas, documentação e preservação. À Dona Lôra e família, muito obrigada pelas informações preciosas e inéditas.

Mas principalmente à Maria Caetana, deixo aqui meu agradecimento sem dimensões, por, em consequência da vida que viveu, ter sido a minha primeira bisavó, através do seu décimo filho.

Profundamente, literalmente:

– Obrigada pela existência.

 Da bisneta Helga, em fevereiro de 2015.

–×××–

Veja também:

 



Fontes
[1.1] [1.2] [1.3] [1.4] [1.5] [1.6] [1.7] [1.8] [1.9] [1.10] [1.11] [1.12] Registro de batismo de Maria, acessado em 4 de fevereiro de 2015. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1869, Set-1875, Nov: imagem 132 de 248.
batismo de maria araujo
[2.1] [2.2] Registro de Batismo de Maria, accessed 1 January 2015. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977,” Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1861, Mar-1882, Fev: image 73 of 237.
[3] Registro de batismo de Lídia, accessed 1 January 2015. index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1865, Fev-1869, Set: image 46 of 220.
[4] Registro de batismo de Belmira, accessed 7 February 2015. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1865, Fev-1869, Set: image 205 of 220.
[5.1] [5.2] [5.3] [5.4] [5.5] [5.6] [5.7] [5.8] Registro de Óbito de Caetano Araújo, acessado em 7 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Óbitos 1892, Maio-1926, Jun: image 115 of 203
[6] VENÂNCIO, Renato Pinto. A madrinha ausente: condição feminina no Rio de Janeiro, 1750-1800. In: COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: História Econômica e Demográfica. São Paulo: IPE-USP, 1986, p. 97. In: ANDRADE, Rômulo Garcia de. A População Escrava e Suas Relações de Parentesco em Uma Freguesia do Sul Fluminense – Mangaratiba, 1802-1816 (PDF). Pg.3, Nota 6.
[7] Registro de batismo de José de Araújo, accessed 7 February 2015. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1875, Nov-1879, Jun:  image 53 of 183.
[8] Registro de batismo de Honorina, accessed 7 February 2015. “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977,” index and images, FamilySearch: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Batismos 1880, Abr-1884, Mar: image 217 of 233.
[9.1] [9.2] [9.3] [9.4] [9.5] Memórias da filha caçula de Maria Caetana, coletadas pela autora em entrevista em Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil, em dezembro de 2012.
[10] PERES, Tirsa Regazzini. Educação Brasileira no Império (PDF). São Paulo: Unesp, 2010. p.14, §3.
[11.1] [11.2] [11.3] [11.4] [11.5] [11.6] [11.7] [11.8]
“Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,” images, FamilySearch  Registro de Casamento Civil de José Sebastião do Nascimento e Maria Caetana de Araújo, Images, FamilySearch. “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Matrimônios 1892, Jun-1913, Jul: imagem 4 de 206.

Registro de Casamento Civil de José e Maria

[12.1] [12.2] [12.3] [12.4] Registro de Casamento Religioso de José Sebastião do Nascimento e Maria Caetana de Araújo, acessado em 22 de dezembro de 2014. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Tubarão: Nossa Senhora da Piedade: Matrimônios 1891, Jun-1894, Abr: imagem 31 de 55.

cas rel jose e maria

[13] Registro de Nascimento de Leovegildo, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago: image 47 of 207.
[14] Registro de Nascimento de Adolpho, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago: image 84 of 207.
[15] Registro de nascimento de Laura, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes :Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago: imagem 117 de 207.
[16] Registro de nascimento de Dimas, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch Brasil: Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999″: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago: imagem 141 de 207.
[17] Registro de Nascimento de José, acessado em 10 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago; imagem 161 de 207.
[18] Registro de Nascimento de Pedro, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago: imagem 193 de 207.
[19] Registro de Nascimento de Paulo, acessado em 18 de janeiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Nascimentos 1892, Maio-1904, Ago; imagem 197 de 207.
[20.1] [20.2] Registro de casamento de João Nascimento e Beatriz Kochler, acessado em 2 de fevereiro de 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”: Porto Alegre: São José dos Alemães: Matrimônios 1923, Maio-1942, Jul: imagem 7 de 42.
[21] Registro de nascimento de Lothar, acessado em 11 de dezembro de 2014. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Orleans: Orleans: Nascimentos 1909, Maio-1911, Mar: imagem 85 de 229.
[22] Notícia de José S. do Nascimento, 1896. Hemeroteca Digital Brasileira. Jornal “A República”, Ano VII,  N.o 6, 18 de julho de 1896, 1.a Pág., 2.a Col., 2.a Linha.

[24] Registro de casamento de Antonio e Locinda, accessed 7 February 2015. Images, FamilySearch , “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”; Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Matrimônios 1900, Nov-1918, Jul: image 7 of 205.
[25] Registro de casamento de José Araujo e Maria Alexandrina, accessed 7 February 2015. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes; Matrimônios 1900, Nov-1918, Jul: image 35 of 205.
[26] Registro de casamento de Lídia e Isaac, accessed 7 February 2015. Images, FamilySearch. “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Matrimônios 1892, Jun-1913, Jul: image 8 of 206
[27] Registro de casamento de Garcindo e Maria Feliciana, accessed 7 February 2015″Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,” images, FamilySearch: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Matrimônios 1892, Jun-1913, Jul: image 169 of 206.
[28] Registro de casamento de José Araújo e Doralice Rodrigues, accessed 7 February 2015. “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,” images, FamilySearch: Pedras Grandes: Pedras Grandes: Matrimônios 1913, Jul-1931, Jul: image 11 of 205.
[29.1] [29.2] Registro de óbito de Guilhermina, accessed 7 February 2015. “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,” images, FamilySearch: Orleans: Pindotiba: Óbitos 1915, Maio-1922, Set; image 94 of 103.
[30] Registro de Óbito de José Sebastião do Nascimento, acessado em 22 de dezembro de 2014. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,”: Tubarão: Tubarão: Óbitos 1930, Fev-1933, Jun: imagem 62 de 202.

Óbito de José Sebastião do Nascimento

[31.1] [31.2] [31.3] Registro de Óbito de Maria Araújo do Nascimento, accessed 22 December 2014. images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999”: Tubarão: Tubarão: Óbitos 1936, Mar-1938, Maio: image 41 of 203; N.o 11 98.obito maria araujo 2 copy

José Sebastião do Nascimento

Ele viu acontecer a abolição da escravatura, a queda do Império e a ferrovia em Santa Catarina. Mais de 155 anos após seu nascimento, uma filha sua ainda vive.
Conheça a história de José Sebastião do Nascimento.

*20.01.1860 Biguaçu SC          †19.01.1931 Tubarão SC

• Vide a genealogia de José Sebastião do Nascimento
 Síntese

José Sebastião do Nascimento viveu entre 1860 e 1931. Foi integrante da Guarda Nacional, participou do Comissariado de Polícia e trabalhou na construção e manutenção da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina, em várias cidades de Santa Catarina. Nasceu em Biguaçu, e foi um homem de família e pai de doze filhos.

Assinatura de José Sebastião, na ocasião de seu casamento civil, em 1892.

Assinatura de José Sebastião, na ocasião de seu casamento civil, em 1892.

Nota

Algum tempo após o término desta biografia, emergiu o que para mim é das coisas mais interessantes sobre José Sebastião. A sua filha caçula mandou, através de uma neta, a seguinte mensagem:

” Uma das coisas que ela comentou foi que, de acordo
com sua lembrança, seu pai teria a deixado bem no dia
do aniversário, e com uma certa premonição sobre o
fato, o que era bem comum.
O Sr. José tinha premonições e uma delas foi
justamente sobre esse dia.

 ♠ Quem tem premonições? Eu tenho. Mas só as que não procuro ter. ♠

1. Primeira parte:
Crescendo na Terra Firme

 1.1. Nascimento

José Sebastião do Nascimento nasceu em São Miguel da Terra Firme – atual Biguaçu, Santa Catarina, Brasil, em 20 de janeiro de 1860,[1] numa sexta-feira. O lugar é logo ao norte do lado continental de Florianópolis, o período histórico é o do segundo reinado, e a data é uma das oito datas de festas religiosas comemoradas anualmente em Biguaçu: A Festa de São Sebastião.

Filho legítimo de Manoel José do Nascimento[1] e de Carlota Cândida Coelho,[1] foi batizado na quinta-feira de 12 de abril do mesmo ano,[1] na igreja matriz da antiga freguesia de São Miguel da Terra Firme.[1]

Igreja São Miguel Arcanjo, centro histórico de Biguaçu. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional.

Onde José foi batizado: A Igreja São Miguel Arcanjo, reconstruída em 1798, a 7km do centro histórico de Biguaçu. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional. Imagem disponibilizada por VitaArquitetura.com.br. Sem data, autor desconhecido. Editada por Helga.

Era neto paterno de Manoel José do Nascimento[2] e Aniceta Francisca das Chagas,[2] e neto materno de Jeremias Coelho Vieira[2] e Maria Coelho.[2] Foram registrados “Protectora Nossa Senhora. e o Reverendo Vigário desta m.ma Freguesia o Padre Manoel Amancio Barrêto[1] como seus padrinhos.[1]

 

1.2. Infância e adolescência

1.2.1 Religiosidade

A devoção católica é evidente na família de José, cuja madrinha era a invocação de Nossa Senhora, e padrinho, o vigário da Paróquia – o que era, aliás, contra a lei canônica da época. Segundo Rômulo Garcia de Andrade, “Venâncio [Renato Pinto] abordou a ausência fisica de mulheres na cerimônia de batismo de pessoas livres […] A opção por N. Sra. como madrinha embutia uma permuta: N. Sra. ganhava um afilhado e em troca protegia a mãe na hora do parto.[3]

Quanto à escolha do vigário para padrinho, poderia-se inferir que foi: uma escolha por um padrinho com poder de intermediação junto ao divino, segundo a crença na fé hierarquizada naquela época; ou uma escolha por um padrinho com algum grau de posses e mais apto a exercer influência, ou a obter favores na comunidade local.[4]

Além disso, José adotou o nome de São Sebastião como seu segundo nome, prestando homenagem por ter nascido em 20 de janeiro, dia deste Santo. Da mesma forma, o primeiro filho de José também ganhou um segundo nome em homenagem ao santo do dia em que nasceu: assim, chamava-se Leovegildo Elói (em homenagem a Santo Elói).

 

 1.2.2. Escolaridade

A única evidência de alguma escolariadade de José Sebastião é o fato de ter sido alfabetizado, sendo que tinha possibilidade de votar, e demonstrando certa destreza ao assinar o nome. Provavelmente, freqüentou a escola primária masculina de São Miguel, que ali já existia desde 27 de agosto de 1831.[5]

No contexto do segundo império, a alfabetização de José Sebastião foi um privilégio. Em 1867, quando ele contava sete anos, somando-se todas as províncias do Brasil, “[…] Aproximadamente, dos 1.200.000 indivíduos em idade escolar, apenas 120 mil recebiam instrução primária, ou seja, a décima parte da população, ou ainda um indivíduo por 80 habitantes. [AZEVEDO, 1958, p. 82]”[6](grifo adicionado).

 

1.2.3. Família na terra firme

Enfim, quase nada se sabe da infância de José em São Miguel. Mas é possível, em algum grau, imaginar a dinâmica da inserção de José nas famílias Nascimento (de seu pai) e Coelho (de sua mãe).

José teve pelo menos um irmão mais velho, chamado Manoel José do Nascimento Neto e casado em Biguaçu em 15 de fevereiro de 1873,[7] com Ana Luísa do Sacramento. Nasceu no décimo sexto ano de casamento de seus pais. Não foi encontrado nenhum registro de outros filhos do casal em Biguaçu, além deste irmão, Manoel, que a julgar pela data do casamento, e pelo nome herdado do pai e do avô, era provavelmente o primeiro filho da família.

O menino teve, no entanto, vários primos em primeiro grau, dos quais alguns, presumivelmente, não chegou a conhecer. Os tios por parte de pai, cujos batismos dos filhos encontram-se todos na freguesia vizinha de São Pedro de Alcântara, foram pelo menos estes:

  • João José do Nascimento, casado com Luísa Cândida Coelho, e pai de Manoel, nascida em 1855; e Maria, nascida em 1856, e afilhada dos avós paternos de José Sebastião – em São Pedro de Alcântara;
  • Joaquim José do Nascimento, casado com Josefa Tomásia Pereira, e pai de Tomásia, nascida em 1861; e João, nascido em 1866 – em São Pedro de Alcântara;
  • Francisco José do Nascimento, casado com Maria Luísa de Alpis, e pai de Aniceta, nascida em 1861, em – em São Pedro de Alcântara;
  • Henrique José do Nascimento, casado com Angélica Rosa de Jesus, e pai de Maria, nascida em 1868, em São Pedro de Alcântara.

Tendo em conta que os avós de José Sebastião foram os padrinhos da neta Maria, (batizada em 26 de junho de 1856, em São Pedro de Alcântara), eles provavelmente também estiveram ali radicados. Assim, não se sabe se houve contato relevante de José Sebastião com os seus avós paternos, mas presume-se que se existiu convívio, averá sido ocasional.

Mapa. "Plano Hidrográfico da Ilha de Santa Catharina e da terra firme adjacente." 1814, Paulo Joze Miguel de Brito. Colorido por HelgaLabs.

A localização das freguesias na terra firme: São Miguel, São José e São Pedro de Alcântara em relacão à Ilha de Santa Catharina – Florianópolis. Mapa “Plano Hydrográphico da Ilha de Santa Catharina e da Terra fime adjacente rectificado no anno de 1814 – Por Paulo Joze Miguel de Brito”. Disponibilizado por Colonizadores da Ilha de Santa Catarina (vide fontes). Editado por Helga.

Os tios por parte de mãe, no entanto, encontravam-se principalmente em São Miguel e ocasionalmente em São José. Eram, pelo menos, quatro:

  • Senhorinha de Liz Coelho, casada com Joaquim Antonio Coelho, e mãe de José, nascido em 1845; Senhorinha, nascida em 1850; Cândido, nascido em 1852; e Laurinda, nascida em 1855 – todos filhos batizados em São Miguel.
  • Constança Coelho de Jesus, casada com Manoel Pereira de souza, e mãe de Maria, nascida em 1865; Amaro, nascido em 1868; e Cândido, nascido em 1870, e afilhado dos pais de José Sebastião – todos filhos batizados em São Miguel.
  • Maria Coelho do Sacramento, casada com Miguel Machado de Simas, e mãe de Cipriano, nascido em 1874; e Maria, nascida em 1875 – todos filhos batizados em São Miguel.
  • Jeremias Coelho Vieira (Filho), casado com Maria Joaquina, e pai de José, nascido em 1871; e João, nascido em 1872 – todos filhos batizados em São José.

Assim sendo, como se vê abaixo, além dos parentes mais próximos, José tinha também uma considerável quantidade de primos-irmãos contemporâneos, dentre os quais, alguns quase coetâneos. Viviam também na freguesia de São Miguel, ou nas proximidades de São José ou São Pedro de Alcântara:

 

Familiares de José Sebastião em São Miguel, São José e São Pedro de Alcântara: pais, avós, irmão, cunhada, sobrinhos, tios e primos. Feito por Helga, janeiro de 2015.

A avó materna, Maria Coelho, havia falecido em 1859, e portanto José não a conheceu. Já o avô materno, Jeremias Coelho Vieira, faleceu com muita idade – segundo consta, aos noventa anos – e, tendo falecido, e provavelmente vivido seus últimos anos em Biguaçu, deve ter tido oportunidade de algum convívio com os netos, dentre os quais José Sebastião, até os seus 12 anos.

O irmão de José, Manoel, teve pelo menos dois filhos em São Miguel – Biguaçu, a saber: Maria, nascida em 1874, e Manoel, nascido em 1876.  Manoel é o único irmão de José de quem se tem notícia, e o único familiar a quem ele ainda visitava esporadicamente em Biguaçu, na vida adulta. Assim, a nova família de Manoel possivelmente tomou um pouco do espaço de José Sebastião na vida familiar, durante o desenrolar de sua adolescência.

Mas todos os vínculos familiares e afetivos de José na sua terra natal, por mais fortes ou fracos que tenham sido, ficariam para trás. José Sebastião deixaria a região de Biguaçu e arredores para não mais voltar em definitivo, e passaria a visitá-la com raridade.[8]

Abaixo, está uma galeria de imagens de Biguaçu como ou à similitude do que teria visto José, na sua infância:

 

1.2.4. A relação com São Miguel – Biguaçu

É parte das memórias de seus filhos que José acreditava ser descendente de índios e portugueses, considerando-se “filho da terra de Biguaçu”,[8] embora nada conste a este respeito em qualquer registro seu ou de seus antepassados até o momento. Aqui, fica quase tudo a cargo da imaginação. O que levou José Sebastião a acreditar ser ou se sentir de origem indígena está perdido no tempo, e além das fontes documentais. Talvez tenha sido uma forte identificação com o local. Ou um mito de família, que tende a ser mais estigma e romantismo do que realidade, super-representando influências indígenas que poderiam estar já muito diluídas ao longo das gerações.

Quanto a uma tendência ao entrelaçamento cultural entre os povos indígenas e europeus, que como no Brasil, se observou também em Biguaçu, a sumariza bem Lourival Câmara, sucintamente:

“Pedro Calmon, ao estudar a história social do Brasil, notou que, nos primórdios do povoamento, o elemento indígena passou, paradoxalmente, de assimilando a assimilador, transfundindo no elemento português a sua organização, a sua língua, as suas crenças, os seus costumes.
Esses mesmo paradoxo no litoral catarinense. Os açoreanos herdaram costumes indígenas e os transmitiram aos seus descendentes.”[5](grifos adicionados).

Quanto à periodicidade de seus regressos à sua terra natal, era modesta. Sendo o filho temporão, José já havia perdido o pai quando se casou; e na época da infância de seus filhos mais jovens, ambos seus pais eram já falecidos.[8] Nesta época visitava Biguaçu para rever apenas o irmão, Manoel,[8] e com pouca freqüência,[8] devido à grande dificuldade de acesso ao local.[8]

 

2. Segunda parte:
A vida adulta no Vale do Rio Tubarão

2.1. A vida profissional

2.1.1. A mudança para Pedras Grandes

José Sebastião atingiu a maioridade nas últimas décadas do século XIX, ao mesmo passo em que Biguaçu começava a encontrar o seu declínio econômico, e outras oportunidades surgiam no interior de Santa Catarina. Um dos fatores que contribuíram para a decadência do local foi a redução da importância da rota portuária em que Biguaçu se localizava, em decorrência de novas vias de acesso pelo meio terrestre, melhor interligando o estado.[9]

O município que atualmente é Lauro Müller, no extremo sul catarinense, era conhecido desde 1841 como Minas, devido à descoberta de jazidas de carvão mineral no local.[10] Em de 1874, uma concessão foi obtida para a construção de uma ferrovia ligando as minas à região portuária, impulsionando a imigração para o local e acarretando o início da construção da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina (atual Ferrovia Tereza Cristina), em 1880.

Assim, talvez atraído pela promessa do desenvolvimento econômico do Vale do Rio Tubarão, e provavelmente com não mais de vinte anos, José transferiu-se para Pedras Grandes ou arredores, onde foi morador.[11]

 

 2.1.2. O trabalho na Estrada de Ferro

José trabalhou nas obras de construção da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina,[8] que ligava os municípios catarinenses de Lauro Müller, Pedras Grandes, Orleães, Tubarão, Laguna e Imbituba, entre outros. A principal função desta ferrovia era inicialmente o transporte de carga – especificamente, da produção de carvão mineral no extremo sul catarinense até os portos de Imbituba e Laguna. Quanto às condições de trabalho, segundo Alcides Goularti Filho e Ângela Maria Antunes do Livramento, em março de 1891, os operários da ferrovia pararam pela primeira vez, em protesto aos “baixos salários e péssimas condições de trabalho”.[12]

Trabalhador na Estação de Tubarão da ferrovia Tereza-Cristina

Trabalhador na Estação de Tubarão da Estrada de Ferro Donna Tereza Cristina (EFDTC). Cartão Postal dos EUA. Imagem disponibilizada por João Luís V. Teixeira, 07.02.2011, via AmantesDaFerrovia.com.br (vide fontes). Sem data, autor desconhecido.

Subseqüentemente às obras de construção, coube-lhe o cargo de feitor da turma de conservação.[8] Segundo o Prof. Anderson Soares André, contando a história de Pindotiba (distrito de Orleães), e descrevendo o trabalho na Estrada de Ferro entre Lauro Müller e Tubarão, “Na conservação da Estrada de Ferro, além do mestre de linha havia um feitor com oito homens para cada oito quilômetros.”[13]

Conservação da estação em Palmeira, localidade de Orleães.

Conservação da ferrovia em Palmeira, localidade de Orleães. Um trecho do leito da ferrovia parece ter sido levado pela erosão, como os dormentes, presos ao trilhos, não parecem contar com nenhum apoio. O vagão do trem parece transportar trabalhadores para realizar os reparos. Imagem disponibilizada por Anderson Soares André, em “História de Pindotiba” (vide fontes).  Sem data, autor desconhecido.

 a Estrada de Ferro ontem e hoje

Na galeria abaixo, estão mapas de localização da E.F.D.T.C. e uma uma seleção de fotos antigas de localidades do trecho Lauro Müller – Laguna.

 

Para os curiosos, segue vídeo da Tereza Cristina, funcionando em 2013 – disponibilizado por Andreas Illert:

notas sobre a profissão de José Sebastião

Em registros de nascimento de um de seus filhos, e como testemunha de casamento civil,  declarou ser um trabalhador “de agência”, expressão genérica que atualmente poderia equivaler a um trabalhador autônomo, como explica Ivan de Andrade Vellasco.[14]

Porém, em outros registros de nascimento de seus filhos, seu ofício foi descrito como “lavrador”, acerca do que, até o momento, não há esclarecimento sobre a freqüência, veracidade e natureza de tal atividade.

Em 5 de fevereiro de 1910, sendo testemunha do casamento do cunhado Garcindo Bonifácio, assina e se declara da seguinte forma:

Screen Shot 2015-02-09 at 10.44.16 PM

“José Sebastião do Nascimento com 46 annos de idade Empregado Público morador no Dristricto [sic] de Orleans do Sul.”

E em 4 de junho do mesmo ano, como testemunha de casamento de Albino Pereira e Rosa Bittencourt Rocha:
Screen Shot 2015-02-09 at 10.44.47 PM

“José Sebastião do Nascimento com 46 annos de idade Empregado da Estrada de Ferro, Rezidente no dristrito [sic] de Orleans do Sul.”

2.2. A vida afetiva

2.2.1. O encontro com Maria Caetana

Em Pedras Grandes, deve ter vindo a conhecer a futura esposa Maria Caetana de Araújo, moradora na mesma cidade[11] e filha de Caetano Joaquim da Silva Araújo[11] e Guilhermina Silvina de Souza.[11]

É de se imaginar que  a tenha conhecido através de algum membro da família da qual viria a fazer parte. Explorando essas possíveis conexões, o futuro cunhado, Antonio Caetano de Araújo,  assim como José Sebastião, foi integrante da Guarda Nacional em Pedras Grandes. Parece ter sido seu amigo também Isaac Antunes de Medeiros, que também fazia parte da Guarda Nacional e que no futuro veio a casar-se com uma irmã de Maria Caetana. Além do mais, a profissão dos ferroviários também permeou a família de Maria Caetana, como foi o caso de pelo menos um sobrinho, que era filho do já citado Isaac de Medeiros.

 

2.2.2. O casamento

José Sebastião casou-se aos 32 anos [15] (apesar de ter declarado contar 29 anos)[15] com Maria Caetana de Araújo,[15] que era doze anos mais jovem,[15] em cerimônia civil em casa das audiências do Juiz de Paz Roberto Schufler, em Pedras Grandes[15] em 18 de novembro de 1892.[15] Foram testemunhas os amigos – que também faziam parte da Guarda Nacional – José Avelino Pacheco dos Reis,[15] de 41 anos, negociante e residente em Pedras Grandes,[15] e Friedrich Dörner,[15] de 31 anos, seleiro e residente na freguesia de Tubarão.[15] A cerimônia religiosa aconteceu na capela de Pedras Grandes,[11] em 7 de fevereiro de 1893,[11]terça-feira, sendo testemunhas José Maurício dos Santos,[11] que também era integrante da Guarda Nacional, e novamente José Avelino Pacheco dos Reis.[11]

a igreja de Pedras Grandes. Fonte: Portal de Pedras Grandes. Sem data.

a igreja de Pedras Grandes. Fonte: Portal de Pedras Grandes (vide fontes). Sem data, autor desconhecido.

 

2.2.3. Os filhos

Ao longo de seus quase trinta e nove anos de casamento com Maria, José teve doze filhos nos primeiros vinte e dois anos de casado, de modo que como ocorre, o movimento da família se reflete nos registros de nascimento da prole. Considerando-se a condição de seu trabalho, que ao menos na fase de construção da ferrovia teria sido de natureza braçal e árdua, pode-se imaginar o desafio de criar doze filhos, aos quais apesar do estilo de vida simples e trabalhoso, não faltaram abrigo, víveres ou educação.[8]

Em poucos mais de duas décadas muito intensas, José Sebastião e Maria Caetana tiveram os seguintes filhos:

    1. Leovegildo Elói Nascimento, nascido em 19 de dezembro de 1893, em Pedras Grandes. Testemunhas: José Avelino Pacheco dos Reis e Isaac Antunes de Medeiros.[16]
    2. Adolpho Nascimento, nascido em 19 de junho de 1895, em Pedras Grandes. Testemunhas: Boaventura Costa de Mello e Isaac Antunes de Medeiros.[17]
    3. Laura Nascimento, nascida às 5 horas e 30 minutos de 2 de novembro de 1896, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e Jacintho Eleodoro Nunes.[18]
    4. Dimas Nascimento, nascido às 16 horas e 30 minutos de 10 de abril de 1898, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e José Francisco Borges.[19]
    5. José Carlos Nascimento, nascido às 21 horas de 24 de setembro de 1899, em Pedras Grandes. Testemunhas: Antonio Bratti e Manuel Francisco Godinho.[20] Como sugere uma foto de família, José Carlos, conhecido como Joca, teria completado Bodas de Prata em 1947, em Canoas, Rio Grande do Sul.

      Possivelmente, José Carlos, o tio "Joca" e família, em 1947, Viamão. Acervo de família.

      (Foto de família ainda não identificada) – Possivelmente, no centro está José Carlos, o tio “Joca”, ao lado da esposa e filhos, em 1947, em Canoas, Rio Grande do Sul. Acervo da Helga.

    6. Pedro Nascimento, nascido em 5 de janeiro de 1902, em Pedras Grandes. Testemunhas: Juvêncio Francisco Borges e Sabino Luciano Pereira.[21]
    7. Paulo Nascimento, nascido às 6 horas de 1.o de julho de 1903, em Pedras Grandes. Testemunhas: João Rodrigues Machado e Manoel José Pereira.[22]
    8. João Pio Nascimento, nascimento estimado por volta de 1904, em Orleães. Casou em 1935 com Beatriz Kochler, em Porto Alegre[23] Foi testemunha o irmão mais moço, Lothar.[23] As fotos abaixo pertenciam a Lothar Nascimento e são de um de seus irmãos, porém ainda não identificado. Assim sendo, estão atribuídas a João Nascimento, com quem Lothar, que morava em Porto Alegre, teria mais chances de ter mantido contato. Fotos do acervo da Helga.PB sem verso0002 Fotos PB0024
    9. Maria Nascimento, nascimento estimado por volta de 1907, em Orleães.
    10. Lothar Nascimento, nascido em 29 de outubro de 1909, na localidade de Oratório, Orleães. Testemunhas: Jorge Salomão Boabard e João Antonio da Motta.[24] Casou-se com Erna Nilles em Porto Alegre, em 1933.

      Lothar Nascimento, a esposa Erna, e os primeiros dois filhos, no Natal de 1942.

      Lothar Nascimento, com a esposa Erna, e os primeiros dois filhos do casal, no Natal de 1942. Acervo da Helga.

    11. Antonia Nascimento, nascimento estimado por volta de 1912, em Orleães ou Tubarão.
    12. “Dona Lôra” Nascimento, (é usado o apelido para proteger a privacidade) nascida em 1915 em Tubarão.
      Com quase 100 anos, continua lúcida e ativa (fevereiro de 2015). Muitas exclamações não bastariam para expressar a sorte de poder ter conhecido a Dona Lôra.

 

2.2.4. As afinidades

José Sebastião tinha amigos na Guarda Nacional e no Comissariado de Polícia de Pedras Grandes, o que possivelmente era uma afinidade mais enraizada na propensão política amplamente republicana dessas entidades, do que num convívio ocupacional – pois a Guarda Nacional não era ativa, salvo circunstancialmente, em situações de conflito.

As testemunhas de seus casamentos civil[15] e religioso,[11] a saber: Frederico Dönner,[15] José Avelino Pacheco dos Reis[11][15] (que também era Juiz de Paz em Pedras Grandes, em 1896)[25] e José Maurício dos Santos,[11] todos foram integrantes da Guarda Nacional.

Isaac Antunes de Medeiros, que também foi da Guarda, foi testemunha de nascimento do primeiro filho,[16] Leovegildo, em dezembro de 1893[16]. Alguns meses antes, foram José Sebastião e Maria Caetana a testemunhar o casamento civil que uniu Isaac à irmã de Maria Caetana, a jovem Hermínia Lídia de Araújo.

O 1.o suplente do cargo de Subcomissário de polícia,[26] Boaventura Costa de Mello, foi testemunha[17] de nascimento de Adolpho, o segundo filho de José, em 1895.[17]

As testemunhas escolhidas para os filhos a partir de 1896 não parecem relacionadas nem com a milícia cidadã, nem com a polícia, levando a crer que o afastamento de José Sebastião das funções públicas tenha influenciado o seu círculo social.

Antes de se estabelecer em definitivo em Tubarão, José Sebastião e família viviam na localidade de Oratório, em Orleães. Os sogros, com quem deve ter tido contato mais freqüente do que com os próprios familiares consangüíneos, moravam na localidade de Palmeiras (atualmente, Pindotiba), também em Orleães. Pedras Grandes e Orleães foram inicialmente colônias destinadas a assentar, na sua maioria, colonos vindos da Itália, Letônia, Polônia, e também – note, também colonos nacionais.

Duas testemunhas de nascimento de seus filhos e uma do seu casamento, por exemplo, eram Antonio Bratti, Jorge Salomão Boabard e Frederico (assinou “Friedrich”) Dönner – que aparentemente seriam imigrantes. Dois de seus filhos receberam nomes muitos mais comuns entre alemães do que entre lusófonos – Adolpho, em 1895, e Lothar, em 1909.

Como explicado anteriormente, ele não se autodefinia e nem se apresentava como sendo de origem tão-somente lusitana. Portanto, nada leva a crer que xenofobia ou eurocentrismo estivessem no dicionário de José Sebastião. Pelo contrário, um dos aspectos interessantes da vida dele é a multiculturalidade do seu universo, que estaria ainda hoje à frente de muitas mentes tacanhas.

 

2.3. A vida de cidadão

2.3.1. No contexto histórico

José veio de Biguaçu, onde os marcos arquitetônicos que até hoje lá estão foram construídos por mão de obra escrava. Somente aos seus vinte e oito anos, no 13 de maio de 1888, a Lei Áurea pôs um ponto final na questão da abolição. Não que para José Sebastião isso tenha feito enorme diferença: oito anos antes, em 1880, a construção da ferrovia Tereza Cristina na qual conta-se que ele trabalhou, ao contrário das edificações coloniais de São Miguel, foi executada com a mão-de-obra de trabalhadores livres, dos quais muitos eram imigrantes italianos.

Tendo presenciado o momento na história da extrema escassez de mão-de-obra, foi ele um dos que se juntou à nova massa de trabalhadores necessária para possibilitar o desenvolvimento urbano e comercial da época.

Outro momento histórico marcante do seu tempo foi a queda da monarquia. Mais uma vez, não que para ele, um trabalhador que não tinha escravos nem posses relevantes, tenha feito enorme diferença a transição abrupta de monarquia para república. Mas ele deve, no mínimo, ter observado a mudança de bandeiras, as novas leis do estado laico, e o discurso de uma necessária renovação proferido no novo regime republicano, em que tantos descontentes com o império acreditavam.

Possivelmente sentiu também alguma mudança na forma de organização da Guarda Nacional, na qual deve ter se alistado desde 1878, embora maiores informações sobre este tema sejam ainda escassas.

 

2.3.2. A participação de José Sebastião na Guarda Nacional

As notícias de José Sebastião e suas companhias na Guarda Nacional ocorrem já no período da República, quando a organização já estava desmobilizada e rumava para um lento processo de extinção.[27] Nesse contexto, em 14 de junho de 1893,[28] José foi nomeado Tenente[28] da 4.a Companhia do 13.o Batalhão de Infantaria[28] da Guarda Nacional em Tubarão. Como os municípios onde faltasse contingente poderiam alocar homens de cidades vizinhas, isso não necessariamente significa que José Sebastião estivesse radicado em Tubarão nesta época.

Algumas generalidades sobre a Guarda Nacional

Afinal, o que fazia um oficial da Guarda Nacional? Uma Guarda sem quartel, sem uniforme, sem disciplina, sem armas. Nos dias ordinários, nada. Em dia de conflito, tudo.

A Guarda Nacional, criada em 1831, sofreu várias mudanças em sua importância, estrutura e legislação ao longo das décadas até o fim do século XIX, época da maioridade de José Sebastião. Sendo uma herança do período Regencial, a organização já não tinha a mesma relevância na época da maioridade de José. Como nota Maria Auxiliadora Faria, “A promulgação da Lei 2.395 de  10 de setembro de 1873, destituindo-a de forma quase definitiva das funções militares, legitima seu papel como força política.”[29](grifo adicionado).

Mesmo assim, até 1891, segundo o decreto nº 146, de 18 de Abril do mesmo ano, o alistamento na Guarda Nacional era ainda segundo os termos de 1850,[30] e portanto obrigatório para todos os cidadãos brasileiros, com um certo nível mínimo de escolaridade e renda, entre 18 e 60 anos.[31]

Ainda segundo Faria, “Foi determinado que a Guarda Nacional do serviço ativo só se reuniria uma vez por ano, em dia designado pelo comandante superior local – posto criado pela reforma de 1850 – para “Revista de Mostra e exercícios de Instrução, nos distritos do Batalhão ou Seção de Batalhão a que pertencer”.”[29](grifo adicionado). Assim, o alistamento e participação na instituição, na ausência de conflitos armados, parecem ter sido apenas formalidades a serem cumpridas.

Outro aspecto interessante, apontado por Douglas Pereira da Silva, é a transferência da importância da milícia para as instâncias estaduais, como melhor explicado nesta citação:
“De fato, com a decadência da Guarda Nacional, principalmente a partir de 1873 houve o desenvolvimento das Forças Estaduais dos Estados (antigas províncias), com os mais variados nomes, mas com as mesmas características: estrutura militar, vinculada aos entes federados (Estados – Membros) e estrutura burocrática de administração, desenvolvendo as chamadas Polícias Militares, que na República se tornariam as principais forças responsáveis pela segurança pública, mesmo porque o Exército ficaria responsável pela defesa externa.”[32] O que nos leva à próxima ocorrência na vida de José Sebastião, no trecho a seguir.

 

2.3.3. E por último, mas não menor em importância, as atribuições de subdelegado

Talvez mais trabalhosa, e com maiores implicações práticas, tenha sido a sua próxima nomeação, desta vez para Subcomissário de Polícia[33] de Pedras Grandes,[33] em 28 de abril de 1894,[33] cargo do qual foi exonerado a pedido,[34] com pouco mais de dois anos de exercício, em 5 de julho de 1896.[34] Na edição do “Almanach Catharinense” do mesmo ano, José é listado como Subcomissário de Pedras Grandes,[26] encabeçando a lista de autoridades policiais daquele distrito, que, sendo naquela época ainda a freguesia de São Gabriel das Pedras Grandes de Tubarão, não apresentava Comissário de Polícia. Assim, efetivamente, José Sebastião era como o delegado do local.

Cabe ainda citar trecho do artigo de Felipe Genovez,[35] que melhor elucida as dificuldades das atividades de comissários e subcomissários de polícia:

“O Chefe de Polícia Interino – Fernando Caldeira de Andrade em Relatório datado de 30 de junho de 1893, sobre autoridades policiais da Capital, assim se reporta:
“Exercem as funcções de commissario e sub-commissario d’esta capital os prestimosos e dedicados cidadãos João do Prado Lemos, Nuno da Gama d’Eça e Annimbal José de Abreu, cuja actividade, por demais comprovada no exercício de tão espinhosos cargos, merece por parte de vossa honrada e patriotica administração os mais sinceros encomios. De facto só o patriotismo, a dedicação sem limites pela segurança pública, levam a tão nobres caracteres acceitarem tão arduas funcções, onde gastam quasi toda a sua actividade economica com os esforços inauditos, roubando aos seus affazeres muitissimas horas que se consomem muitas vezes com sacrifícios de sua saude e quem sabe, da propria vida. (…)”. (grifo adicionado)

Supracitado está o relato da situação dos Comissários de polícia em Florianópolis, que presumivelmente contaria com melhor estrutura do que as demais localidades do estado, na época exata em questão. Assim, se considerarmos, além do usual desgaste causado pela atividade, que José Sebastião estava já em vias de ganhar o terceiro filho, não é de causar estranheza que ele tenha desejado retirar-se do corpo de polícia do interior de Santa Catarina, naquele determinado momento.

 

Notícia da exoneração a pedido de José Sebastião do Nascimento em 5 de julho de 1896, publicada no dia 18 do mesmo mês e ano no jornal "A Republica" (vide 2.a linha da 2.a coluna). Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira.

Notícia da exoneração a pedido de José Sebastião do Nascimento em 5 de julho de 1896, publicada no dia 18 do mesmo mês e ano no jornal “A Republica” (vide 2.a linha da 2.a coluna). Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira.

 

2.4. Setenta aniversários, e não mais

E então, após uma vida de trabalho e filhos – José faleceu em Tubarão,[36] às 14 horas do dia 19 de janeiro de 1931,[36] de esclerose cardio-renal,[36] conforme atestado do Dr. Asdrúbal Costa.[36] Contava 70 anos e 364 dias. Foi declarante da sua morte o senhor Antônio Corrêa Sobrinho,[36] que compareceu ao cartório de Tubarão no dia seguinte, no que seria data do septuagésimo primeiro aniversário do finado José Sebastião do Nascimento.

Ficaram vivos a esposa, Maria Caetana, que veio a falecer alguns anos depois em Tubarão, e seus doze filhos, que se espalharam por várias localidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Há de ter sido imensamente saudosa a festa de São Sebastião de 1931, para a família de José.

Todos os anos, sai a procissão de São Sebastião em várias cidades do Brasil, no 20 de janeiro. Foto: Beth Santos/ PMRJ via FotosPublicas.com.

 

Cronologia

Data, idade na ocasião e breve descrição dos acontecimentos pessoais e históricos ao longo da vida de José Sebastião

20 de janeiro, 1860 0 Nasce, filho de Manoel Nascimento e Cândida Coelho, em São Miguel da Terra Firme, atual Biguaçu
12 de abril, 1860 0 É batizado na Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, Biguaçu
15 de setembro, 1872 12 Falece o avô materno, Jeremias Coelho Vieira, em Biguaçu
15 de fevereiro, 1873 13 Casa-se o irmão mais velho, Manoel José do Nascimento Neto, em São Miguel
27 de setembro, 1874 14 Nasce a sobrinha Maria, filha de Manoel José do Nascimento Neto, em São Miguel, Biguaçu
8 de fevereiro, 1876 16 Nasce o sobrinho Manoel, filho de Manoel José do Nascimento Neto, em São Miguel, Biguaçu
1880 20 Começa a construção da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina
1884 24 Finalizada construção da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina
estimado entre
1878 e 1892
±25 Falece o pai, Manoel José do Nascimento
1887 27 Parte da ferrovia é destruída pela enchente do Rio Tubarão
13 de maio, 1888 28 Promulgação da Lei Áurea
15 de novembro, 1889 29 Proclamação da República
18 de novembro, 1892 32 Casamento civil com Maria Caetana de Araújo, em Pedras Grandes
7 de fevereiro, 1893 33 Casamento religioso com Maria Caetana de Araújo, em Pedras Grandes
14 de junho, 1893 33 Nomeado Tenente em Tubarão
7 de setembro, 1893 33 É testemunha de casamento da cunhada Hermínia com Isaac Antunes de Medeiros, em Pedras Grandes
19 de dezembro, 1893 33 Nasce o primeiro filho, Leovegildo Elói, em Pedras Grandes
28 de abril, 1894 34 Nomeado Subcomissário de Polícia de Pedras Grandes
19 de junho, 1895 35 Nasce o 2.o filho, Adolpho, em Pedras Grandes
5 de julho, 1896 35 Exonerado a pedido do cargo de Subcomissário de Polícia de Pedras Grandes
2 de novembro, 1896 35 Nasce a 3.a filha, Laura, em Pedras Grandes
estimado entre
1893 e 1901
±37 Falece a mãe, Carlota Cândida Coelho
10 de abril, 1898 38 Nasce o 4.o filho, Dimas, em Pedras Grandes
24 de setembro, 1899 39 Nasce o 5.o filho, João Carlos, em Pedras Grandes
5 de janeiro, 1902 41 Nasce o 6.o filho, Pedro, em Pedras Grandes
1902 42 Donna Thereza Christina Railway Company deixa de operar. A ferrovia é adotada pelo o governo brasileiro.
1.o de julho, 1903 43 Nasce o 7.o filho, Paulo, em Pedras Grandes
±1904 ±44 Nasce o 8.o filho, João, em Orleães
±1907 ±47 Nasce a 9.a filha, Maria, em Orleães
29 de outubro, 1909 49 Nasce o 10.o filho, Lothar, em Orleães
±1912 ±52 Nasce o 11.a filha, Antonia, em Orleães ou Tubarão
1915 55 Nasce o 12.a filha, Dona Lôra, em Tubarão
±1922 ±62 Casamento do filho João Carlos, talvez em Canoas, no Rio Grande do Sul
19 de janeiro, 1931 71 Falece aos 71 anos, incompletos por um dia, em Tubarão, por esclerose cardio-renal.

 

Fontes

Veja também:

Agradecimentos

Primeiro, obrigada ao meu pai, por ter sido meu companheiro de pesquisas, documentação e preservação. À Dona Lôra e família, muito obrigada pelas informações preciosas e inéditas.

Mas principalmente ao José Sebastião, deixo aqui meu agradecimento sem dimensões, por, em consequência da vida que viveu, ter sido o meu primeiro bisavô.

Profundamente, literalmente:

– Obrigada pela existência.

 Da bisneta Helga, em fevereiro de 2015.

–×××–

 

 



Fontes
[1.1] [1.2] [1.3] [1.4] [1.5] [1.6] [1.7] Registro de Batismo de José do Nascimento, acessado em 22 de dezembro de 2014. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977”: Biguaçu: São Miguel: Batismos 1858, Dez-1861, Ago: imagem 25 de 54.

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[2.1] [2.2] [2.3] [2.4] Registro de Casamento dos pais de José, acessado em 27 de dezembro de 2014. Index and images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registros da Igreja Católica, 1714-1977,”: Biguaçu: São Miguel: Matrimônios 1831, Maio-1856, Mar: imagem 91 de 203.
[3] VENÂNCIO, Renato Pinto. A madrinha ausente: condição feminina no Rio de Janeiro, 1750-1800. In: COSTA, Iraci del Nero da. Brasil: História Econômica e Demográfica. São Paulo: IPE-USP, 1986, p. 97. In: ANDRADE, Rômulo Garcia de. A População Escrava e Suas Relações de Parentesco em Uma Freguesia do Sul Fluminense – Mangaratiba, 1802-1816 (PDF). Pg.3, Nota 6.
[4] BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Padrinhos de Muitos Afilhados: um estudo do significado do compadrio em São João del Rei, Séculos XVIII e XIX, PDF. Associação Nacional de História ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História. João Pessoa, 2003.
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[10] Histórico de Lauro Müller (PDF). Biblioteca IBGE, acessado em 30 de janeiro de 2015.
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cas rel jose e maria

[12] GOULARTI Filho, Alcides – LIVRAMENTO, Ângela Maria do. Movimento operário mineiro em Santa Catarina nos anos 1950 e 1960. Criciúma: Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina: Grupo de Pesquisa e Memória da Cultura do Carvão em Santa Catarina, s.d. Artigo. Pág.1, Introdução.
[13] História de Pindotiba, por Prof. Anderson Soares André, acessado em 4 de fevereiro de 2015.
[15.1] [15.2] [15.3] [15.4] [15.5] [15.6] [15.7] [15.8] [15.9] [15.10] [15.11] [15.12] [15.13]
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[26.1] [26.2] José Sebastião do Nascimento, lista de “Autoridades policiaes”. Hemeroteca Digital Brasileira. “Almanach Catharinense”, Ano 1896, Pág. 64, Seção “Pedras Grandes”.
[27] SALDANHA, Flávio henrique Dias. As Dores do Parto: Guarda Nacional e coronelismo em Minas Gerais no século XIX (PDF), acessado em 30 de janeiro de 2015. Londrina: ANPUH – XXIII Simpósio Nacional de História, 2005.
[28.1] [28.2] [28.3] Notícia de José S. do Nascimento, 1893. Hemeroteca Digital Brasileira. Jornal “A República”, 14 de junho de 1893. Pág 2, 4.a Col.
[29.1] [29.2] FARIA, Maria Auxiliadora. A Guarda Nacional em Minas 1831-1873 (PDF). Curitiba: Universidade Federal do Paraná: Departamento de História: Tese de mestado, 1977. 175p. Pág.12, §3.
[30] Site oficial da Câmara dos Deputados do Brasil. Legislação Informatizada – Decreto nº 146, de 18 de Abril de 1891 – Publicação Original, acessado em 29 de janeiro de 2015.
[31] Site oficial da Câmara dos Deputados do Brasil. Legislação Informatizada – Lei nº 602, de 1850 – Publicação Original, acessado em 29 de janeiro de 2015.
[32] SILVA, Douglas Pererira da. A Guarda Nacional e sua importância histórica: Das origens ao surgimento e crescimento das Polícias Militares (PDF), acessado em 30 de janeiro de 2015. Texto extraído do site Jus Militaris. Pág.4, §5
[33.1] [33.2] [33.3] Notícia de José S. do Nascimento, 1894. Hemeroteca Digital Brasileira. Jornal “A República”, Ano V, N.o 7, 28 de abril de 1894. Pág. 2, 2.a Col., §2, Seção “Pedras Grandes”.
[34.1] [34.2] Notícia de José S. do Nascimento, 1896. Hemeroteca Digital Brasileira. Jornal “A República”, Ano VII,  N.o 6, 18 de julho de 1896, 1.a Pág., 2.a Col., 2.a Linha.

[36.1] [36.2] [36.3] [36.4] [36.5] Registro de Óbito de José Sebastião do Nascimento, acessado em 22 de dezembro de 2014. Images, FamilySearch: “Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999,”: Tubarão: Tubarão: Óbitos 1930, Fev-1933, Jun: imagem 62 de 202.

Óbito de José Sebastião do Nascimento