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Grávida, linda e radiante. Ou Não.

Salve!

 

– Atire a primeira pedra aquela grávida que nunca se sentiu injustiçada pelo sistema ou pela natureza.

Outro dia, conversando com uma Berlinense, ela perguntou – como você se sente? E eu respondi, com franqueza, que prefiro minhas bebês do lado de fora.

Hoje é dia das Mães, tanto no Brasil quanto Alemanha, e o presente que eu realmente gostaria era o de me sentir leve novamente. Era o de ter o meu guarda-roupa de volta; e o melhor de tudo, o presente magnífico de um dia sem desconforto físico.*

***

* Na verdade, se não for morrer de sinceridade – meu presente ideal seria poder agradecer à minha mãe. Para quem perdeu a mãe muito cedo, o Dia das Mães pode ser um lembrete cruel de uma ausência tão doída. Com uma filha muito pequena para agradecer meu esforço, e à espera de uma segunda filha que ainda nem fiz nascer, este dia faz pouquíssimo sentido para mim. Um dia, num futuro distante, ainda me reconcilio com ele… Mas isso é outra história.

***

Então para aquelas que, como eu, sentem que uma gravidez corresponde a grosso modo a uma longa indigestão de nove meses, com direito a alguns momentos irritantes na vida social, fica sugerida a brincadeirinha abaixo:

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O Bingo da Gravidez. Quem completar até o tão esperado nascimento da prole, ganha um enjôo, inteiramente grátis. Via TheOtherMothers.com

∞∞∞

Mas é claro que tudo exposto acima é só a minha visão pequena e egoísta desta fase tão extraordinariamente física da maternidade. Afinal, se penso na gravidez em seu sentido mais amplo, no seu papel na genealogia, fico cansada – fico exasperada, na verdade – só de tentar imaginar a quantidade inimaginável de gestações que formaram esta corrente infinita de cordões umbilicais.

˜(E agora estou eu aqui, segurando a ponta mais recente desta trama.) ˜

Incrível imaginar também que todo este sem-número de gestações tiveram sucesso do início ao fim, da concepção ao parto. Porque lendo sobre todos as possíveis ameaças e problemas e perigos no caminho de uma gestante, alguém poderia imaginar que tal proeza seria estatisticamente impossível.

∞∞∞ Mas Não É. ∞∞∞

igrowhomans

Meus super poderes. Via YorkRegionDoula.tumblr.com

∞∞∞

Pensando bem, posto desta forma, o clichê gasto do “Milagre da Vida” parece até possivelmente legítimo.

♥ Feliz Dia das Mães. ♥

Att,

helga~Helga.

Bônus: Google Doodle Dia das Mães 2016:

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Note-se os sapatos unissex. ^^^ EM TEMPO!!

♥♥♥

Dwellings, de Linda Hogan

Salve!!

Quantas vezes já me perguntei, afinal –

— de quantas histórias somos feitos? —

"Redwood Cathedral", Sean O'Gara, 2013.Via SavetheRedwoods.org.“Redwood Cathedral”, Sean O’Gara, 2013. Via SavetheRedwoods.org.

Para hoje, deixo aqui esse lindíssimo poema de Linda Hogan, o qual prefiro não me atrever a traduzir.

◊◊◊

“Walking, I can almost hear the redwoods beating. And the oceans are above me here, rolling clouds, heavy and dark. It is winter and there is smoke from the fires. It is a world of elemental attention, of all things working together, listening to what speaks in the blood.

Whichever road I follow, I walk in the land of many gods, and they love and eat one another.

Suddenly all my ancestors are behind me. Be still, they say. Watch and listen.

You are the result of the love of thousands.”

~ Linda Hogan

As "rolling clouds", (nuvens onduladas). Foto: data e autor desconhecidos, encontrada em ShowViral.com

As “rolling clouds“, (nuvens onduladas). Foto: data e autor desconhecidos, encontrada em ShowViral.com

◊◊◊ Somos feitos do amor de milhares. ◊◊◊

Att,

helga~Helga.

Eu sei o que vocês fizeram no século retrasado

Salve!

Quantas vezes ouvi falar dos antepassados de alguém de uma forma idealizada e completamente positiva – afinal, morreu, virou santo…! Eu suspiro.

~ “Mas… E se meu tataravô foi um canalha?” ~

Com mais freqüência do que gostaríamos, nós – os que preferem estudar a fundo a trajetória de cada antepassado, ao invés de simplesmente colecionar nomes e datas – nos deparamos com realidades desagradáveis do passado. Ao pesquisar em antigos jornais e arquivos, estamos nos sujeitando a encontrar algumas verdades que desmentem as fábulas de família e nos desafiam a incorporar os piores momentos de nossos ancestrais na nossa psique, na percepcão de nossa história individual e de nossa identidade construída através das gerações.

O que fazer quando desenterramos tabus que atravessaram gerações – e somos nós os únicos vivos para digeri-los? Assim como relutamos em aceitar nossas próprias falhas, vivemos numa realidade social em que as aparências contam muito, e podemos nos sentir diminuídos pelos nossos lapsos aos olhos da sociedade. O mesmo sentimento pode ocorrer em relação às falhas de nossos antepassados. Pode acontecer com qualquer um – e aliás, é provável que aconteça – de encontrar os fantasmas das desavenças em família, de dificuldades financeiras, filhos ilegítimos, casamentos involuntários, crimes, rejeições, vícios, violência. Alguns comportamentos, que eram perfeitamente aceitáveis, e talvez até desejáveis há algum tempo atrás podem ser hoje motivo de constrangimento.

E então, confrontados com as mazelas de nossos predecessores, vamos julgá-los e condená-los, mesmo sem nunca tê-los conhecido? Vamos tentar repreendê-los, mesmo que postumamente, sem nunca tentar compreender as circunstâncias, sem nunca tentar o exercício dificílimo de nos colocarmos no lugar de alguém que viveu em outra realidade e outro momento histórico, há décadas ou centenas de anos?

Pessoalmente, acho que não. Porque renegar a existência de um ancestral pouco nos ajuda, se no processo essa negação acaba por nos privar da conexão com os seus feitos positivos, que podem ser fonte de inspiração e fortalecimento. E varrer o que nos desagrada para baixo do tapete nos priva de aprender com os erros de nossos antepassados. Erros que, aliás, não precisamos repetir. Somos todos imperfeitos – e todos temos traços de comportamento de seriam considerados reprováveis para outros de nossos familiares, que nos olham ou olhariam de outra perspectiva, diferente da nossa.

Nada pode mudar o passado. Mas compreender que existem mil tons de cinza entre o preto e o branco, e que todos temos nossos piores e melhores momentos, está a nosso favor para tratar nossas feridas – sejam os vestígios de dores antigas que herdamos, sejam as feridas abertas por nós mesmos.

Alguém já ouviu aquele ditado:

♣ “Acontece nas melhores famílias” ?

Pois é. ♣

Para pensar positivo, vale também ler:

♦ As vidas ♦

Elementar, meu caro Watson.

Elementar, meu caro Watson. Via Derek Winnert

Att,

helga

~Helga.

As vidas

~ Este é um pensamento para um amigo que acaba de sofrer uma grande perda. ~
–– ♣ ––

Por mais longo que seja, o tempo entre lutos nunca é longo o suficiente. Desta vez, é o pesar inesperado e repentino de um amigo que me faz recordar as circunstâncias do meu luto mais recente, para o qual a genealogia foi mais do que um alívio: foi, e ainda é, uma forma de terapia.

Para refletir que o mero reconhecimento da existência prévia de nossos ancestrais pode nos fortalecer, deixo aqui um lindíssimo poema de Pablo Neruda, do livro Los Versos del Capitán.

–– ♣ ––

   «

Las vidas

¡Ay que incómoda a veces
te siento
conmigo, vencedor entre los hombres!

Porque no sabes
que conmigo vencieron
miles de rostros que no puedes ver,
miles de pies e pechos que marcharon conmigo,
que no soy,
que no existo,
que sólo soy la frente de los que van conmigo,
que soy más fuerte,
porque llevo en mí
no mi pequeña vida
sino todas las vidas,
y ando seguro hacia adelante,
porque tengo mil ojos,
golpeo con peso de piedra
porque tengo mil manos
y mi voz se oye en las orillas
de todas las tierras
porque es la voz de todos
los que non hablaron,
de los que non cantaron
y cantan hoy con esta boca
que a ti te besa.

~ Pablo Neruda »

 

 

∞  a vida continua  ∞

Meus sentimentos,

~Helga.