Ela era filha de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul, casou com um sério rapaz alemão e viveu a vida dos arrabaldes de Porto Alegre.
Conheça a história de Henriqueta Eilert.
*±1877 Rio Grande do Sul †±1950 Porto Alegre RS
• Vide a genealogia de Henriqueta Eilert
Síntese
Henriqueta Eilert era filha de imigrantes alemães radicados no Rio Grande do Sul, e foi uma esposa, mãe e dona de casa teuto-brasileira. Era casada com um alemão, teve quatro filhas, e viveu a maior parte da sua vida em Porto Alegre.
Até o momento, pouco se sabe precisamente sobre os dados vitais de Henriqueta Eilert, de forma que esta biografia apoia-se em várias memórias da família, suposições e evidências indiretas.
Parte um: Henriqueta veio ao mundo
1.1. O mistério de Henriqueta – Dos Comos, Ondes e Quandos ainda sem resposta: Nascimento e infância
A primeira aparição de Henriqueta em registro documental ocorre em dezembro de 1900, na ocasião do seu casamento civil em Porto Alegre. Segundo o registro de casamento de Henriqueta com Theodoro Nilles,[1] ela teria nascido em ca. 1877,[1] no Rio Grande do Sul.[1] Era filha dos imigrantes alemães Pedro Eilert[1] e Clara Eilert.[1] Ambos os seus pais atendiam à fé Evangélica,[2] [3] e portanto, há alguma dificuldade em localizar informações exatas sobre o nascimento de Henriqueta no Rio Grande do Sul, não tendo sido encontrado até o momento qualquer registro civil ou religioso.
Sendo assim, não se sabe exatamente quando e onde no Rio Grande do Sul ela nasceu. Da localização de seus pais no estado, sabe-se que a mãe, Clara, havia emigrado da Alemanha na infância com pais e irmãos para Nova Petrópolis,[4] na Colônia de Santa Cruz do Sul, e que a família deixou o local em 1859.[4] Muitos anos mais tarde, em 12 de janeiro de 1895, o jornal “A Federação” lista os nomes do pai de Henriqueta “P.M.F. Eilert” e do avô materno “Carlos Stams” como passageiros da embarcação Lageado,[5] chegando de São Sebastião do Caí a Porto Alegre naquela ocasião.
Também sabe-se que um irmão da sua mãe, o tio Eduard Stamm, batizou uma filha (e portanto uma prima-irmã de Henriqueta) em Santa Cruz do Sul, em 1870.[6] Portanto, é possível que Henriqueta tenha nascido em alguma localidade da Colônia de Santa Cruz do Sul, região onde também era radicado Franz Joseph Nilles, tio de seu futuro marido, Theodoro.
1.2. Pais e avós
Henriqueta era filha do imigrante alemão Peter Max Friedrich Eilert – conhecido como Pedromax Frederico[7] Eilert ou simplesmente Pedro Eilert, pintor[8] (em alemão: “maler”),[9] e sua esposa Clara Stamm – que passou a chamar-se Clara Eilert após o casamento. Pedro e Clara vieram da Alemanha de diferentes cidades,[2] [3] bem distantes entre si, e em diferentes épocas,[9] [4] com quatorze anos de intervalo. Portanto, com toda probabilidade, os pais de Henriqueta conheceram-se e casaram-se no Rio Grande do Sul.
Os avós paternos de Henriqueta eram Hans Jurgen Georg Eilert, conhecido no Brasil como Jorge Eilert, também pintor, e Anna Christina Jacobs;[10] e os avós maternos eram Carl Wilhelm Stamm, afiador (em alemão: “schleifer”), e sua esposa Henriette Amalie Erntges (conhecida como Amalie ou Amalia E. Stamm).
1.3. A segunda de oito irmãos
Nos registros de óbito de seus pais, Henriqueta é elencada como a segunda de oito filhos do casal Pedro e Clara Eilert. Assim, seus irmãos eram:
- Jorge Eilert, nascido ca.1875, casado, oleiro e contando 27 anos em 1902; foi declarante da morte do pai, Pedro Eilert;
- Eleonora Eilert, nascimento estimado ca.1879, sem mais notícia;
- Emília Eilert, nascimento estimado ca.1881; casada com Francisco Subkoviak, foi madrinha de batismo de Wilma Nilles, filha de Henriqueta;
- Charlotte Amalie Clementine Eilert, nascimento estimado ca. 1883. Conhecida como tia Carlota, casou com Germano Neuman no 4º distrito de Porto Alegre, a partir de 4 de março de 1907 (data da habilitação para casar).[11] Foi madrinha de batismo de Erna Nilles, filha de Henriqueta.
- Adolpho Eilert, nascimento estimado ca.1885. Foi testemunha do casamento civil de Erna Nilles, filha de Henriqueta.
- Catharina Eilert, nascimento estimado ca.1887, sem mais notícia.
- Wolkmar Eilert, nascimento estimado ca.1889, declarante da morte de Clara Eilert, em 1924.
Parte dois:
A vida adulta em Porto Alegre
2.1. O encontro com o noivo
Conforme escrito anteriormente em outro post, sobre como o destino de Henriqueta teria cruzado o do futuro marido, Theodoro:
“A Henriqueta é uma dessas pessoas de quem mais se sabe através de memórias do que de dados vitais. Mas sabe-se que ela tinha vínculos familiares com trabalhadores da área de encardernação e papelaria, e impressões de livros comerciais (tais como cadernos e livros de contabilidade, por exemplo). É possível que assim tenham se conhecido, como ocorria com freqüência, através de familiares que por sua vez se conheceram através do trabalho.
Ou ainda pode ser que tenham se conhecido em sociedade, estando ambos inseridos na comunidade germânica dos imigrantes alemães no Rio Grande do Sul. Somente em Porto Alegre, por exemplo, teriam sido várias as oportunidades de ampliar círculos sociais na comunidade dos alemães, como relata Núncia Santoro Constantino:[12]
No entanto, com enorme probabilidade, o encontro de Henriqueta com Theodoro se deve a Jorge Eilert Filho. Nascido no Rio Grande do Sul[13] em 1872,[13] filho de Jorge Eilert,[13] casado com Christiana Boos,[13] e residente na Fernandes Vieira, [13] onde manteve uma oficina de encadernação próxima à residência dos pais de Theodoro.
2.2. Casamento
Em 1900, Henriqueta era moradora de Porto Alegre, juntamente com os pais. Aos vinte e três anos, casou-se com Theodoro Nilles às três horas e trinta minutos da tarde do domingo de 23 de dezembro de 1900, em casa no endereço Rua Arlindo, n.o 94. Foram testemunhas do enlace Jorge Eilert Filho, (com quem Henriqueta provavelmente tinha algum vínculo de parentesco), com vinte e oito anos, encadernador e residente na Rua São Rafael (a atual Avenida Alberto Bins), n.o 35; e Frederico Guilherme Lehr, com trinta e oito anos, marcineiro e residente na Rua Garibaldi, n.o 3.
Sendo que esta cerimônia civil teve procedimento em um domingo, e em “casa à Rua Arlindo”, possivelmente esta era a casa de um dos nubentes, no caso, provavelmente da noiva Henriqueta, sendo que os pais de Theodoro moraram na Rua Fernandes Vieira desde pelo menos 1894.[14] A Rua Arlindo não mais existe, e atualmente corresponde a ela, a grosso modo, a atual Avenida Érico Veríssimo em Porto Alegre.
A assinatura de Henriqueta
De todo modo, pude ver as assinaturas. A da vó Henriqueta chama a atenção… está muito firme e clara, como se fosse em negrito…
Vale observar que, como Theodoro, apesar de falar o alemão como primeira língua, Henriqueta incorporou e escrevia o próprio nome em português. Como costuma ser o caso nos antigos registros evangélicos no Rio Grande do Sul, que precederam os registros civis (que só se tornaram obrigatórios dois anós após a instalação da República, em 1891) as cerimônias eram celebradas e documentadas em alemão (a exemplo da irmã Carlota, cujo anúncio de casamento divulga o consórcio da Srta. Charlotte Amalie Clementine Eilert). Deste modo, o nome de Henriqueta, no uso diário em casa e como deve ter sido documentado no ato de batismo, seria Henriette – nome que, aliás, deve ter tomado da avó paterna, Henriette Amalie Erntges.
2.3. A vida local:
O Riachinho, a casa, os parentes, as filhas
Diferente do marido, Theodoro, que trabalhava no centro de Porto Alegre, Henriqueta devia permanecer mais na vizinhança de casa, ou seja, no bairro Santana, antigamente chamado de arrabalde ou arraial São Miguel. Comparando o estilo de vida no arrabalde do passado com o presente, assim conta o pesquisador Sérgio da Costa Franco, morador de Porto Alegre desde 1935:[16]
“As diferenças são profundas. O que logo se destaca é a qualidade de vida. As casas não tinham grades, havia um outro modo de vida. No bairro, os rapazes saíam de pijama a caminhar na rua. De pijama, que na época era o equivalente ao abrigo esportivo de hoje. A pessoa chegava em casa, botava o pijama e depois saía. Era uma característica do arrabalde. Dependendo da rua, colocavam-se cadeiras na calçada para conversar. O movimento de automóveis era reduzidíssimo. Em 1950, eram 6 mil carros na cidade.”
Para toda mulher que permanece em casa, há no estilo de vida muito mais do elemento da intimidade com o local: as conversas com os vizinhos, o observar dos traseuntes, a percepção com riqueza de detalhes de tudo que faz o lugar ao longo do tempo que passa. Nesse contexto de imersão local, é impossível não pensar na característica relação de amor e ódio dos moradores das áreas ribeirinhas com o Arroio Dilúvio. O antigo Riachinho, que mudou de nome e também de traçado, devia também estar muito presente no dia a dia de Henriqueta – como já descrevi anteriormente aqui:
“Muito próxima estava a família também do arroio. O arroio onde se lavava roupa, onde se pescava, onde se coletava água potável para abastacer a casa… era também o mesmo arroio que inviabilizava a locomoção urbana usual, o mesmo arroio que empapuçava as ruas de chão batido, e que por vezes devia também alagar ligeiramente a casa.”
Outros elementos da vida nos arrabaldes que diferem dos dias de hoje são os componentes da infra-estrutura da cidade. Presumindo que Henriqueta realmente vivesse na casa onde se casou, na antiga Rua Arlindo – que era o limite do Menino Deus – e que depois tenha vivido com a família na Rua São Luiz, no bairro Santana, pode-se imaginar que ela acompanhou várias fases do desenvolvimento urbano de Porto Alegre. Teria experimentado Porto Alegre desde a configuração urbana incipiente das vizinhanças dos arrabaldes, até os anos de intensificação da ocupação urbana, da implementação e expansão das redes de distribuição elétrica e de água e esgotos, da ampliação dos transportes, e finalmente da canalização do Riachinho.
A época em que Henriqueta viveu nos bairros de Porto Alegre coincide com e excede o período de 1897 a 1924, período no qual, segundo Tânia Marques Strohaecker, houve uma série de melhoramentos decisivos na cidade. A realidade inicial dos arrabaldes era, porém, precária, como ela descreve em seu trabalho sobre os loteamentos dos bairros de Porto Alegre:[17]
“Na realidade, era apenas obrigatório que as novas áreas loteadas tivessem os imóveis voltados para logradouro público. As ruas e avenidas doadas para servidão pública pelas companhias loteadoras eram precárias. Não havia pavimentação nem previsão de escoamento das águas servidas, o máximo que se fazia era aterrar o leito da rua com um parco recobrimento de areião e cascalho que, com o passar do tempo, desaparecia por completo, cedendo lugar à lama e aos buracos. Obras de infra-estrutura para redes de água, energia e esgoto também não eram exigidas pelo poder público municipal às empresas.” [grifos adicionados].
A casa podia ser de madeira, e a ruas do bairro de chão batido. Mesmo assim, o capricho de Henriqueta estava nos detalhes:
Nas duas fotos de família acima, ambas tomadas na mesma ocasião, em cerca de 1913, pode-se ver um pouco da morada da família. A cadeira torneada em palhinha – uma fora e uma dentro de casa, cuja ponta do encosto se vê através da janela – não era, definitivamente, o exemplo mais simplório de mobiliário que se podia encontrar. As cortinas de renda, as fotos e o que parece ser um par de castiçais na perede da sala dão testemunho da preocupação com a composição do ambiente interno. Do lado de fora, estão vários vasos e plantas que certamente foram intencionalmente cultivadas. Fotos do acervo da família.
O que se pode inferir da relação de Henriqueta com a casa é o caráter aspiracional da sua personalidade, refletido no lar e nos cuidados com a família. Como especulou Luís Claúdio Pereira Symanski[18] em seu livro – “Espaço privado e vida material em Porto Alegre no século XIX”, a domesticidade dos imigrantes alemães pode ter sido bem mais elaborada do que o habitual em Porto Alegre.
Na vizinhança de Henriqueta moraram também os pais e avós maternos, nas seguintes épocas e endereços:
• até 1909: o pai, Peter Eilert, pintor, morava na Azenha nº 104B.[8] A Azenha começava na esquina da Redenção, portanto, ao que me parece o número em questão estaria entre as atuais ruas Venâncio Aires e Olavo Bilac.
• até 1911: os avós maternos, Amalie (falecida em 1909)[19] e Carl Stamm, afiador (falecido em 1911),[20] viviam na Rua Veador Porto, nº 8, quase esquina com a Bento Gonçalves (na época, a Bento era a Estrada Matto Grosso – que outrora, era justamente um dos limites da cidade).
• até 1924: a mãe, Clara Stamm, morava na Rua Luiz Manoel, nº 1.[7]
Após o falecimento dos avós e pai, e concomitantemente ao falecimento da mãe, foram as filhas de Henriqueta formando suas próprias famílias, e, como ocorre, acabaram não batendo asas por muito tempo até tão longe do ninho. Essas filhas foram:
1. Irma Nilles, nascida em 15 de janeiro de 1902,[21] em Porto Alegre,[21] e batizada em sete de setembro do mesmo ano,[21] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[21] Foram padrinhos a irmã de Theodoro, Hedwig Olga “Edwiges” Nilles, e seu noivo José Kohmann. [21] Casou com o ítalo-brasileiro Arlindo Giácomo,[22] com quem teve filhos. A família morava na Av. Princesa Isabel, onde o marido, Arlindo Giácomo, era proprietário de um negócio familiar, que era uma oficina mecânica;
2. Wilma Nilles, nascida em 10 de maio de 1904,[23] em Porto Alegre, e batizada em 9 de julho de 1905[23] na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[23] Foram padrinhos a irmã Emília Eilert e esposo, Francisco Subkoviak.[23] [22] Casou-se com João Justo Vargas Lopes,[24] que era muito estimado na família,[25] em 27 de julho de 1923[24] na Igreja Nossa Senhora da Piedade, Porto Alegre.[24].
A família morava na Rua Felicíssimo de Azevedo, em outra zona da cidade, mas após o falecimento de Henriqueta, passaram a morar na antiga casa da Rua São Luiz, 333.
3. Erna Nilles, nascida em 30 de março de 1911[26] em Porto Alegre,[26] batizada em 1.o de maio[26] do mesmo ano, na Igreja Nossa Senhora da Conceição.[26] Foram padrinhos a irmã, Carlota Eilert,[22] e esposo, Germano Neumann.[26] Casou-se com Lothar Nascimento em 21 de janeiro de 1933. Por alguns anos, moraram em Erechim, mas voltaram a viver em Porto Alegre, na Rua Gomes Jardim.
Acima, frente e verso de uma foto bem apagada de Erna Nilles na infância, que parece ter sido usada como cartão de visitas. Acervo da Helga.
4. Irene Nilles, filha caçula,[22] nascida em Porto Alegre e falecida em 19 de janeiro de 1946.[27] Irene não casou, e faleceu no mesmo endereço da família – Rua São Luiz, 333, indicando que não chegou a sair de casa.
***
E assim, estava inserida a figura de Henriqueta na parentela, na casa, no bairro e na geografia da cidade.
2.4. As Perdas
Entre 1909 e 1911, seguiu-se um período de pelo menos três perdas pessoais para Henriqueta: o falecimento da avó materna, Amalie Erntges Stamm, por hemorragia pulmonar, em 4 de fevereiro de 1909, na Rua Veador Porto, n.o 8, em Porto Alegre; o falecimento do pai, Pedro, em 13 de maio de 1909, por câncer de laringe, no endereço Avenida Azenha, 104B, em Porto Alegre; e o falecimento do avô materno, Carl Stamm, em 23 de julho de 1911, por arterioesclerose, na Estrada Matto Grosso (atual Av. Bento Gonçalves).
Após um período de 7 anos, em 18 de julho de 1924, falece a mãe de Henriqueta, Clara, por acidente vascular cerebral, na Rua Luiz Manoel, n.o 1, em Porto Alegre. Tanto os pais como avós maternos de Henriqueta repousaram no Cemitério Evangélico de Porto Alegre.[28]
Seguiu-se um período de dezessete anos de crescimento da família sem maiores vicissitudes, em que Henriqueta ganhou vários netos. A última filha a casar-se, Erna, casou em 1933 e em 1940 havia ganho o segundo filho. Mas em 27 de outubro de 1941, Henriqueta torrnou-se viúva do marido Theodoro,[29] vítima de complicações decorrentes de um câncer cervical.
Cinco anos depois, veio a que deve ter sido a mais amarga de todas as perdas: aos 68 anos, Henriqueta perdeu também a filha caçula, Irene, que finalmente sucumbiu à tuberculose, em 1946, na casa da Rua São Luiz.[27]
2.5. Os últimos anos
Henriqueta viveu para ver o marido e a filha caçula perecerem, mas ao menos, ao final da vida, não lhe faltou acolhimento da prole. Henriqueta passou seus últimos anos com a filha Wilma, o genro João Justo Vargas Lopes e os filhos do casal. O endereço era na Rua Felicíssimo de Azevedo, nº 263, onde funcionava Baratilho Santo Antonio, que era local de trabalho e morada da família Vargas Lopes. A casa do baratilho já não mais existe, mas aí estão fotos com João Justo, Wilma, filhos e a tia Carlota, que é a simpática senhora da foto à direita.
Acima: fotos do Baratilho Santo Antonio, morada da família Nilles Vargas Lopes. Acervo da Helga. Nesta casa, faleceu Henriqueta.
Segundo as memórias de família, Henriqueta faleceu no inverno, [22] em Porto Alegre, por volta de 1950, de edema pulmonar. [22] Até hoje, nenhum registro de óbito foi encontrado. As netas relembram que Henriqueta foi sepultada no cemitério da Santa Casa, junto ao marido Theodoro e à filha Irene.[22]
2.6. Netos e lembranças: “eins, zwei, drei…”
Henriqueta pôde conhecer todos os netos, alguns dos quais ainda carregam vivas algumas lembranças dela.
"A vó Henriqueta! Ela puxava o cabelo, fazia aquele coque...!"[22]
Na fila de trás, estão Henriqueta, o neto Rubem, e as filhas Wilma, Erna e Irma; na frente, estão os netos Ila(?), Lothar, Ilka(?), Renato e, agarrado no vestido da mãe, está o pequeno pai da Helga, nascido em julho de 1948 – e assim, parece que esta foto foi tirada no último verão de Henriqueta, por volta de 1950.
Costumava cozinhar um tradicional prato alemão, chamado por ela de “Saumagen”, [22] cuja descrição da receita, porém, mais se assemelha à do um prato alemão chamado “Leberknödelsuppe“. Este prato, que é típico da região da Renânia-Palatinato, foi provavelmente ensinado a Henriqueta pela mãe, Clara (cuja família veio da Renânia), e foi parte do repertório culinário também das filhas de Henriqueta.[22]
Assim como Theodoro, falava o alemão em casa, ensinando aos netos a contar “eins, zwei, drei”.[22] Brincava, apontando com o dedo indicador em movimentos circulares pela palma das mãos das suas netas, enquanto entonava rimas, [22] contando breves contos infantis em alemão – em frases que não foram nunca, porém, compreendidas.
Há também as memórias mais furtivas de Henriqueta, estas dos seus netos mais jovens, infelizmente não as melhores. Há quem diga que, ao fim da vida, Henriqueta já não estava em sua melhor lucidez.[30] Mas certo é que até o fim, colheu o amor que semeou nas filhas – como se vê na dedicatória abaixo, escrita pela mão da filha Erna:
Lembrança: acima, frente e verso do retrato do último neto, dedicado à vovó Henriqueta, pouco antes que ela falecesse.
Cronologia
Data, idade na ocasião e breve descrição dos acontecimentos pessoais e históricos ao longo da vida de Henriqueta
± 1877 | 0 | Nasce Henriqueta, filha de Peter Max Friedrich Eilert e Clara Stamm, no Rio Grande do Sul |
± 1879 | ±2 | Nasce a irmã Eleonora Eilert, no Rio Grande do Sul |
± 1881 | ±4 | Nasce a irmã Emília, a Mimi, no Rio Grande do Sul |
±1883 | ±6 | Nasce a irmã Carlota, no Rio Grande do Sul |
±1885 | ±8 | Nasce o irmão Adolpho, no Rio Grande do Sul |
±1887 | ±10 | Nasce a irmã Catharina, no Rio Grande do Sul |
±1889 | ±12 | Nasce o irmão Wolkmar, no Rio Grande do Sul |
1895 | 18 | Presumida mudança da família para Porto Alegre |
23 de dezembro, 1900 | 23 | Casa-se com Theodoro Nilles, em Porto Alegre |
15 de janeiro, 1902 | 25 | Nasce a filha Irma, em Porto Alegre |
14 de fevereiro, 1903 | 26 | A cunhada, Edwiges, casa-se com José Kohmann, em Porto Alegre |
10 de maio, 1904 | 27 | Nasce a filha Wilma, em Porto Alegre |
1905 | 28 | Registrada a 1.a enchente do século, em Porto Alegre |
13de maio, 1909 | 32 | Falece o pai, Peter Eilert, em Porto Alegre |
4 de fevereiro, 1909 | 32 | Falece a avó materna, Amalie Erntges, em Porto Alegre |
30 de março, 1911 | 34 | Nasce a filha Erna, em Porto Alegre |
23 de junho, 1911 | 34 | Falece o avô paterno, Carl Stamm, em Porto Alegre |
1912 | 35 | Registrada a 2.a enchente do século, em Porto Alegre |
±1913 | ±36 | Nasce a filha caçula, Irene, em Porto Alegre |
1914 | 37 | Registrada a 3.a enchente do século, em Porto Alegre |
±1920 | 43 | Casa-se a filha Irma com Arlindo Giácomo |
27 de julho, 1923 | 46 | Casa-se a filha Wilma com João Justo Vargas Lopes, em Porto Alegre. |
4 de julho, 1926 | 49 | Nasce o neto Edy, em Porto Alegre |
21 de janeiro, 1933 | 56 | Casa-se a filha Erna com Lothar Nascimento, em Porto Alegre. |
1936 | 59 | O nível do Guaíba sobre 3,22m além da cota, em Porto Alegre |
maio de 1941 | 64 | Pior enchente já registrada em Porto Alegre |
27 de outubro, 1941 | 64 | O marido, Theodoro, falece em Porto Alegre |
19 de janeiro, 1946 | 68 | A filha, Irene, falece em Porto Alegre |
11 de julho, 1948 | 71 | Nasce o último neto, em Erechim. |
inverno, ±1950 | ±73 | Falece em Porto Alegre, com edema pulmonar. |
Agradecimentos
Primeiro, obrigada ao meu pai, por ter sido meu companheiro de pesquisas, documentação e preservação. Às filhas de Wilma Nilles, obrigada pelas memórias, passeios, histórias e fotografias. Ao Elvio, que é filho de uma dessas filhas, obrigada por digitalizar as fotos com tanto zelo e qualidade.
Mas principalmente para a Henriqueta deixo aqui meu agradecimento sem dimensões, por, em consequência da vida que viveu, ter sido a minha segunda bisavó. Obrigada pelas memórias que deixou, pela inspiração culinária, e pelo olhar fulminante que se deixou fotografar.
Profundamente, literalmente:
– Obrigada pela existência.
Da bisneta Helga, em maio de 2015.
–×××–
Veja também:
-
Jornal Tabaré – Ilhados na miséria
- Porto Alegre não demorou a dar as costas ao arroio
- BrasilAlemanha – Porto Alegre, “a cidade dos alemães” durante um século – por Sílvio Aloysio Rockenbach
- Porto Alegre, Uma História Fotográfica – Ronaldo Fotografia
- História dos Bairros de Porto Alegre (PDF)
Fontes
(Nota: o sobrenome dos pais e o prenome do marido de Amalie apresentam equívocos. A data de falecimento de Amalie é a mesma do seu registro de sepultamento no Cemitério Evangélico de Porto Alegre, e a filha, Clara Eilert é citada com o nome de casada. A declarante é a mesma do falecimento do marido Carl Stamm, que também contém erros).
(Nota: O sobrenome foi grafado incorretamente porém a data de falecimento é a mesma encontrada para Carl Stamm no cemitério Evangélico de Porto Alegre, junto com a esposa Amalie E. Stamm, a filha Clara Eilert e o genro Peter Max Friedrich Eilert. A declarante é a mesma do falecimento de Amalie Erntges Stamm. Clara é citada como filha).